O mês de outubro traz uma coincidência em termos de fé religiosa entre Brasil e Palestina. Em 12 de outubro celebramos o dia de Nossa Senhora Aparecida, nossa Padroeira, enquanto que na Palestina, no dia 25 do mesmo mês, acontece a Festa de Nossa Senhora Rainha da Palestina. Aqui no Brasil também se comemora o dia das crianças, dia feliz em que presenteamos as crianças com doces e brinquedos. Na Palestina, ao contrário, não há o que se comemorar, pois as crianças não têm casa, não têm brinquedos, não têm remédios e estão morrendo de fome.
De acordo com a Unicef, em média, 28 crianças são mortas por dia em Gaza, devido a bombardeios. O conflito que começou em 2023 já matou mais de 70 mil pessoas e, apesar do acordo entre Israel e Hamas, promovido por Donald Trump, uma população inteira continua sofrendo as consequências dessa guerra insana. Milhares de refugiados estão tentando retornar para uma cidade arrasada em meio a miséria e a fome. É útil lembrar aqui, as palavras do Papa Francisco no seu livro lançado em novembro de 2024: “O que está acontecendo em Gaza, tem as características de um genocídio…”
De acordo com a definição legal da Convenção da ONU, o genocídio envolve cinco tipos de atos cometidos com a intenção específica de destruir um grupo. Desses cinco atos, Israel já teria cometido quatro, o que caracterizaria, tecnicamente, um genocídio; o Papa Francisco estava certo, mas o mundo finge não ver. Quando cenas exibidas diariamente na TV mostrando pessoas chorando pelos seus entes queridos e crianças desesperadas com tigelas vazias nas mãos implorando por comida deixam de nos sensibilizar, é um sinal claro de que fracassamos como seres humanos.
A coincidência das datas festivas envolvendo a fé em Nossa Senhora, revela um grande contraste se analisarmos as diferenças sociais entre um país e o outro. Aqui, fazemos festa para as crianças enquanto que, na Palestina, as crianças necessitam de itens básicos como água, comida, remédios e um lugar para viver. Como ficar feliz em meio a tamanha contradição? É óbvio que não precisamos cancelar as festividades, mas é uma ótima oportunidade de falar com as crianças sobre isso. Precisamos aprender e ensinar atitudes de gratidão, empatia e compaixão com gestos concretos de solidariedade àqueles que sofrem. Enfim, as diferenças entre povos e nações não podem cancelar a nossa identidade comum de seres humanos, que habitam a mesma casa e têm o mesmo direito a vida e a paz.
Romildo R. Almeida – Psicólogo clínico