A série Adolescência, em cartaz na Netflix, tem alcançado grande repercussão não só na mÃdia, mas também entre pais e educadores, e pode ser um grande auxÃlio para ampliar o debate em torno da violência contra mulheres. A série é composta de quatro episódios e é centrada em torno de Jamie, um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma adolescente da escola em que estudavam. A história, apesar de ser uma ficção, foi inspirada em vários casos que acontecem em todo o mundo.
O personagem principal está fora dos padrões que estamos acostumados a ver quando o tema é violência. Nada de garotos de periferia, filhos de pais separados ou drogas. Ao contrário, é um adolescente de classe média que recebeu carinho e atenção dos pais, porém com um detalhe: os envolvidos frequentam comunidades virtuais da internet que difundem informações misóginas, isto é, de ódio contra as mulheres, integrando o que se chama de machosfera (comunidades masculinas que se opõem ao feminismo).
Esses jovens pertencem ao grupo “Incel”, que significa involuntary celibates e, em tradução para o português, refere-se a celibatários involuntários. Os membros do Incel acreditam que são rejeitados pela maioria das mulheres e, por esse motivo, não conseguem se relacionar afetiva ou sexualmente. Eles citam a regra 80/20, que explica que 80% das mulheres só se interessam por 20% dos homens e que, por culpa delas, estariam forçados a ser celibatários. Na visão deles, essa ideia dá justificativa para a prática de violência contra as mulheres (Actum Sanctum) e aqueles que a praticam não são criminosos, e sim heróis.
Muitos crimes contra mulheres, e até massacres em escolas, são gerados a partir de fóruns de discussão nessas comunidades virtuais. A série surpreende ao mostrar um universo totalmente desconhecido pelos adultos, sejam pais ou educadores.
Cercar os filhos de amor e carinho, suprir a maioria de suas necessidades materiais, pode não ser o bastante, pois atualmente as mÃdias sociais têm um grande poder na formação do caráter e na construção de valores. Influenciadores com milhões de seguidores “falam” com os adolescentes na privacidade de seus quartos e ditam maneiras de agir e de pensar, enquanto os pais acham que os seus filhos estão seguros, dormindo abraçados com um ursinho de pelúcia.
Os adolescentes tentam se inserir nos grupos sociais, mas nem sempre são aceitos. A necessidade de pertencimento, aliada ao bullying que sofrem, é o pano de fundo para que busquem no mundo virtual o apoio e a aceitação que não encontram na vida real. Temos que entender essa realidade: uma criança não pode ter acesso a esse mundo perigoso representado pela cultura Incel.
As redes sociais carecem de regulamentação urgente, pois parte delas propaga o ódio e a destruição. A principal matéria que deveria ser ensinada aos adolescentes e praticada por todos chama-se empatia. Só ela nos conecta verdadeiramente com o outro e constrói a única rede que a sociedade necessita: a rede do amor.
Romildo R. Almeida – Psicólogo ClÃnico
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