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COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA (CNV) – Um caminho de sabedoria que favorece o diálogo e promove a paz.

Um caminho de sabedoria que favorece o diálogo e promove a paz.

Enquanto você lê este artigo, já sabe quem é o novo presidente do Brasil, pois esse texto foi escrito antes da realização do segundo turno das eleições, mas independentemente do resultado a verdade é que todos nós perdemos.

Quando a comunicação pacífica entre pessoas que pensam diferentemente é substituída por um discurso de ódio e intolerância, não existem vencedores.

Infelizmente a falta de habilidade para se comunicar não se resume ao âmbito da política.

Ela está presente em todas as relações sociais seja no trabalho, na família, na escola ou entre amigos. Somos seres inteligentes, a obra prima da Criação.

Temos consciência e capacidade para analisar nossos atos, executar tarefas e planejar atividades, mas em situações que envolvem confronto de opiniões, agimos de maneira instintiva como se estivéssemos sendo atacados.

Praticamos a violência, sem perceber, quando falamos com arrogância, desprezo, deboche e de maneira preconceituosa.

Existe uma abordagem criada pelo Psicólogo americano Marshall Rosemberg chamada de Comunicação não violenta (CNV) que ensina uma maneira de falar e ouvir sem machucar e sem se ofender.

O princípio é simples: Fale com clareza e sinceridade o que você quer que o outro faça ao invés de julgá-lo.

Já repararam que numa discussão acalorada as pessoas perdem o controle e o bom senso? Por que não buscamos o que temos em comum ao invés de ficar só debatendo diferenças de maneira ofensiva? Quem julga parte do princípio que é superior, o que em si já é uma suposição de autoridade.

Para que um diálogo produtivo ocorra é preciso estabelecer uma conexão de alma que só é possível com atitudes de humildade, gentileza e compaixão.

Não se trata aqui de aprender a ser trouxa ou engolir sapos, mas abdicar do uso de palavras ofensivas e grosseiras na nossa fala. A CNV cria um clima de paz que faz brotar sentimentos e atitudes correspondentes em quem nos ouve e isso promove o crescimento mútuo.

A história nos revela que as grandes transformações da humanidade foram feitas por homens que usaram como armas a Comunicação não violenta: Jesus Cristo, o Buda e mais recentemente Ghandi, Luther King e Dalai Lama.

Faça algo pela paz. Pesquise na internet, leia, aprenda e pratique a CNV no seu meio. Isso pode não mudar o mundo, mas a sua vida, certamente, vai mudar para melhor.

Romildo R.Almeida Psicólogo clínico

HUMANIZANDO CONEXÕES – Quando o celular ocupa o centro, quem perde somos nós.

Quando o celular ocupa o centro, quem perde somos nós.

Cena comum no cotidiano da classe média: Uma família composta por um casal e dois adolescentes aguarda no restaurante a chegada do garçom.

Detalhe: cada um olhando a tela do seu celular envolvido com alguma coisa que parece ser mais interessante do que o contato entre eles mesmos. Já faz algum tempo que esse invasor chamado de smartphone ocupa indevidamente o lugar que seria o da interação entre pessoas.

O dono de um restaurante em Los Angeles, nos Estados Unidos, preocupado com esta questão resolveu oferecer desconto de 5% na conta a quem concordasse em deixar o celular na portaria.

Pelo menos metade dos clientes aceitou a oferta talvez sensibilizada mais pelo desconto do que pela nobreza da causa. Seria bom se outros estabelecimentos seguissem esse exemplo contribuindo assim para uma melhor conexão entre seres humanos.

Se de acordo com as regras de etiqueta deixar um celular à mesa durante a refeição já é em si um fato extremamente deselegante, o que diríamos de tirar foto do prato antes de comer e postá-la nas redes sociais? Vale destacar que no Brasil o número pessoas com acesso à Internet é de 139.1 milhões (66% da população).

Uma pesquisa revelou que os brasileiros gastam, em média, 9 horas por dia navegando na web. O país também é o que mais acessa as redes sociais, são aproximadamente 3 horas diárias.

A consequência direta desse fenômeno é o empobrecimento das relações de afetividade o que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, chamou de amor líquido no qual os relacionamentos escorrem das nossas mãos por entre os dedos como se fossem água. No mundo líquido, tudo é descartável inclusive os vínculos de amizade e companheirismo.

A característica principal da comunicação virtual está sendo estendida para os vínculos afetivos. Se para deletar um contato da nossa agenda basta um clic, com a mesma rapidez e simplicidade também deletamos uma pessoa da nossa vida numa atitude fria e calculista.

Está na hora de nos desconectarmos das redes sociais que rouba o nosso tempo e corrompe nossas mentes. Precisamos investir na única conexão que pode nos salvar desse processo de desumanização que estamos vivendo: A conexão face a face de olhar, ouvir e sentir o outro.

Aquela em que defeitos e qualidades se somam e se integram formando vínculos duradouros que o tempo não apaga e a distância não separa. Essa conexão se chama amor.

Romildo R. Almeida Psicólogo clínico

TRAGÉDIAS E COMPAIXÃO – Quando a dor nos torna mais humanos.

Quando a dor nos torna mais humanos.

O ano de 2019 começou com muitas tragédias. O rompimento da barragem em Brumadinho, as chuvas que provocaram deslizamentos no Rio de janeiro, o incêndio no Ninho do Urubu e a queda do helicóptero que matou o jornalista Ricardo Boechat.

Em meio ao sofrimento é alentador ver que existem pessoas capazes de largar tudo para prestar ajuda.

Também é de se louvar as campanhas de arrecadação de mantimentos, no Brasil inteiro, em prol das vítimas.

Essas tragédias têm a capacidade de fazer vibrar em nós o sentimento de empatia, de colocar-se no lugar do outro, compreender sua dor e querer, de forma genuína fazer algo para que essa dor seja diminuída ou cessada. Isto se chama compaixão.

Há muito que esse tema deixou de ser um assunto exclusivo das religiões. A ciência vem se ocupando dessa habilidade humana e desenvolvendo programas para ensiná-la.

Assim como aprendemos a ler, escrever, também aprendemos a ser compassivos.

Estudos de Neurobiologia comprovam que o exercício da compaixão, ativa neurotransmissores no cérebro que estão ligados ao sistema de satisfação, calma e segurança.

Esse sistema se opõe ao sistema de ameaça e proteção que está ligado à raiva, medo, ansiedade e aversão.

É a ação intensa desse sistema, associada ao sistema de conquista que faz uma pessoa buscar de maneira compulsiva, a riqueza e o consumo, tornando-a egoísta.

Ao contrário, o sistema de calma e proteção é o único capaz de desenvolver a felicidade verdadeira e sustentável. Mas se a compaixão é tão boa, porque a maioria das pessoas não a pratica?

Em primeiro lugar porque não é ensinada e também porque no ocidente esse conceito não é bem entendido. Quem oferece compaixão é visto, indevidamente, como superior e quem a recebe é considerado fraco.

Ser compassivo não é ter pena de alguém e sim reconhecer o sofrimento no outro e tratá-lo como gostaria de ser tratado.

Para desenvolver a compaixão é necessário primeiramente, aprender a ter autocompaixão que é a capacidade de olhar para si mesmo com gentileza e compreensão.

É necessário, ainda, reconhecer a própria fragilidade, afinal todos nós temos nossa própria história, nem sempre carregada de experiências positivas.

O segundo passo é olhar para o outro com olhar menos crítico, aceitá-lo incondicionalmente pelo simples fato de ele ser humano como nós.

Se soubéssemos o quão bem faz a nós o amor ao próximo, passaríamos a cultivar e a praticar a compaixão, ao menos por amor próprio.

Romildo R. Almeida Psicólogo clínico

RUMINAÇÃO MENTAL – A Depressão começa nos pensamentos distorcidos.

A Depressão começa nos pensamentos distorcidos.

O termo ruminar é normalmente utilizado para entender o processo de digestão de alguns animais como bois, camelos, girafas entre outros.

O processo de ruminação consiste em mastigar, engolir e depois retornar com o alimento à boca para ser remastigado e finalmente digerido.

Mas as ciências que se ocupam da saúde mental se apropriaram desse conceito para explicar um comportamento muito comum nas pessoas depressivas: Trata-se da Ruminação mental.

Estamos falando daquele pensamento negativo, que martela noite e dia. O problema da ruminação mental é que ela é a base da depressão.

Quando uma pessoa está em sofrimento emocional, é comum que tenha uma percepção distorcida da realidade e a depressão é realimentada por esses pensamentos formando um circulo vicioso.

A pessoa sente-se como se estivesse possuída de algum espírito maligno ou vítima de algum trabalho espiritual negativo.
Esses “espíritos” ruminam frases que destroem a nossa autoestima: “Sou um fraco”, “sou um perdedor”, “sou incompetente”.

Na verdade, são pensamentos automáticos gerados por crenças que desenvolvemos desde a infância. São ideias distorcidas baseadas em fases da nossa vida nas quais não tínhamos ainda uma mente capaz de discernir o falso do verdadeiro.

As experiências negativas tendem a solidificar esses pensamentos que mais tarde se tornam crenças centrais que compõem a nossa autoimagem.

Para não cair nas armadilhas mentais que nos aprisionam nessas crenças distorcidas, é preciso identificar os pensamentos automáticos.

Nem sempre pensamos o que queremos, pois os pensamentos têm vida própria, eles brotam na nossa mente sem a nossa permissão.

Quando conseguimos identificá-los, devemos adotar uma postura de acolhimento e aceitação, pois eles não são frutos da nossa reflexão consciente e inteligente.

Devemos tratá-los como nuvens no céu que se formam e se dissipam por si mesmas, independentemente das nossas ações.

Todavia, para muitas pessoas a autorreflexão não basta para identificar e lidar com a Ruminação. Nesse caso, é necessária a intervenção de um Psicólogo que através da abordagem Cognitivo Comportamental, poderá ajudar no entendimento e elaboração do problema.

Concluindo, a orientação básica para quem sofre desses processos de Ruminação mental é: Não sofra com o que vem à sua mente, afinal pensamentos nada mais são, do que pensamentos.

Romildo R.Almeida – Psicólogo clínico

VOCÊ NÃO ESTÁ SÓ – Abraçando nossa humanidade comum com auto-compaixão

Abraçando nossa humanidade comum com auto-compaixão.

Por que isto está acontecendo comigo? O que eu fiz para merecer isso? Essas são as perguntas comuns de quem está passando por uma situação difícil na vida, seja uma crise financeira, uma doença ou uma separação afetiva.

Essas lamentações compõem um quadro compatível com o que chamamos de sentimento de autopiedade. Sentimentos desse gênero são causados, na maioria das vezes, por uma distorção cognitiva, isto é o indivíduo perde a capacidade de ver as coisas como elas são e mergulha num mar de negatividade concluindo que ele é a única pessoa que sofre enquanto o restante do mundo está feliz.

Provavelmente você já ouviu a expressão “errar é humano”, mas certamente não sabia que essa frase resume uma das mais valiosas ferramentas utilizadas na Psicologia Positiva e está sendo objeto de estudo de grandes centros de pesquisa científica nessa área.

Estou me referindo à Autocompaixão através da Humanidade compartilhada. A dor que sinto em tempos difíceis é a mesma dor que você sente em tempos difíceis. As causas são diferentes, as circunstâncias são diferentes, o grau de dor é diferente, mas a experiência básica é a mesma. Infelizmente, no entanto, a maioria das pessoas não se concentra no que têm em comum com os outros, especialmente nas dificuldades.

O isolamento tem um efeito devastador na experiência do sofrimento provocando um quadro de negatividade que leva a diminuição das expectativas e um sentimento de inferioridade que inviabiliza as buscas de superação. A pessoa simplesmente não se dá conta que está num processo inconsciente sendo vítima de si mesma.

Pela autocompaixão temos um olhar menos severo em relação a nós mesmos. Uma atitude crítica e autopunitiva pode ser substituída por uma postura autocompassiva que compreende e considera a nossa história e os traumas que vivemos no passado. Ninguém erra porque quer, a natureza humana pressupõe o erro.

Compartilhar nossa humanidade é olhar para dentro de nós mesmos e localizar o que temos em comum com os outros.

As diferenças existem, mas em última análise, somos todos filhos de Deus e de uma forma ou de outra buscamos as mesmas coisas: ninguém quer sofrer, ninguém quer sentir dor, todos, querem ser felizes, todos querem a paz, mas a paz que queremos para o mundo tem que começar no nosso coração. Portanto, dê uma chance a si mesmo e acalme-se. Você não está só.

Romildo R.Almeida – Psicólogo clínico

DOR SOCIAL – A dor que não para de doer.

A dor que não para de doer.

É comum referir-se a um sentimento de perda utilizando uma linguagem que se refere à dor física. Quem nunca descreveu a saudade como um aperto no peito ou o desprezo como facada no coração?

O que não se sabia é que as áreas do cérebro que são estimuladas durante a dor física, são as mesmas que são ativadas depois de vivências sentimentalmente negativas. Estudo recente feito por pesquisadores da Universidade de Michigan nos Estados Unidos demonstram esse paralelo.

Mas, enquanto a dor no corpo pode ser amenizada com medicamentos, o mesmo não acontece com a dor que ocorre na alma cujo sofrimento não cede nunca e contra a qual não existe nenhuma medicação. Solidão, rejeição, exclusão e bullying, entre outras, compõem o quadro daquilo se entende como dor social.

A dor social atinge cada vez mais pessoas nas regiões urbanas e é tão preocupante que a SBED (Sociedade Brasileira para Estudo da Dor) vai lançar uma campanha no segundo semestre para ajudar os pacientes a encontrar a melhor maneira de enfrentá-la.

Tão importante quanto esclarecer e orientar os que sentem a dor social é conscientizar os que estão na outra extremidade do problema e não sabem que são os seus causadores. Quando praticamos atitudes de intolerância em relação àqueles que são diferentes, provocamos neles a dor social através do preconceito.

O preconceito surge quando consideramos que uma pessoa tem menos valor por ser diferente do modelo que julgamos ser o normal, de acordo com nossos valores. A diferença pode ser de raça, de classe social, de orientação sexual ou de credo religioso.

Em geral, a pessoa que tem, não sabe disso, pois está no inconsciente e ninguém quer assumir. Normalmente usamos um mecanismo de defesa chamado de racionalização, ou seja, criamos uma razão que explica as nossas atitudes intolerantes. “Não tenho nada contra, apenas não gosto” é uma das expressões usadas para encobrir a culpa de quem o pratica.

Era estrangeiro e me acolhestes, são palavras de Jesus. Lembrem-se delas da próxima vez que se deparar com um morador de rua, um toxicodependente ou um marginalizado por qualquer outro motivo. Eles são seres humanos e a sua indiferença os faz sentir a dor social e isso dói muito.

Romildo R.Almeida – Psicólogo clínico

ACEITAÇÃO OU RESIGNAÇÃO – O que fazer quando o sofrimento é maior do que nós mesmos!

O que fazer quando o sofrimento é maior do que nós mesmos!

O ser humano não foi feito para sofrer, pelo menos de acordo com as nossas bases instintivas. Quando somos expostos a situações que envolvem dor, a tendência natural é reagir com inconformismo e indignação e o pensamento que prevalece dentro de nós é: Não quero isso pra mim.

O fato de não aceitarmos um determinado acontecimento, nos lança numa cadeia de sentimentos e emoções que se combinam e se multiplicam e isso só faz piorar as coisas. É dentro desse contexto que começa a depressão e, por conseguinte, uma série de outros problemas ligados a ela.

A Psicologia nos coloca diante de uma questão interessante quando se trata de lidar com a dor seja em relação a uma doença física ou a um acontecimento que nos perturba como o rompimento de uma relação afetiva. O que fazer? Aceitar ou resignar-se.

Essas são as duas posturas que podemos ter diante das perdas que nos afligem. A princípio, parece que querem dizer a mesma coisa, mas na verdade há uma grande diferença entre elas.

Aceitar uma situação difícil significa parar de gastar energia com culpa e autorrecriminações e ao invés disso, focar a atenção naquilo que podemos fazer de forma concreta para conviver melhor com a dificuldade. Resignação, por outro lado, é entregar-se passivamente e desistir de lutar considerando-se incapaz de enfrentar o problema. Imaginemos uma pessoa que sofre de uma doença incurável. Aceitar o fato a coloca numa posição ativa diante da doença fazendo-a focar nas possibilidades que ainda tem, buscando viver o momento presente, valorizando as mínimas coisas que é capaz de fazer independentemente de suas limitações. No mesmo exemplo, a resignação faria dela uma pessoa apática e lamentosa em relação ao ocorrido.

Atrairia para si o olhar de pena por parte daqueles que a cercam.

Em outras palavras ela não aceita o destino, apenas se submete a ele de maneira passiva justificando com a frase: “fazer o que? Deus quis assim”.

A ciência tem demonstrado que a maior parte das doenças afeta muito mais a nossa mente do que nosso corpo e que o processo de cura conta com uma participação importante do psiquismo. Saber administrar os próprios pensamentos cultivando uma vida serena é condição básica para se obter uma vida melhor.

Portanto, levante a cabeça e siga em frente. Desenvolva atitudes de gentileza e acolhimento e autocompaixão. Afinal, se Deus te ama, você também tem que se amar. Aceite-se exatamente como você é.

Romildo R.Almeida – Psicólogo clínico

ESCUTANDO A VIDA

Este artigo trata sobre a minha própria experiência sobre Mindfulness, a meditação e os exercícios que numa certa época da minha vida me ajudaram a meditar.

Hoje em dia a linguagem está em contínua evolução e mudança. Cada palavra pode ter vários significados em relação à cultura e às situações existenciais de cada pessoa. Por isso, neste artigo, tentarei explicar também em nível de linguagem o que eu entendo pessoalmente quando falo de “escutar a vida”.

Comecemos com a palavra Mindfulness. Para mim esse conceito não é uma técnica para o bem estar geral ou uma prática oriental para uns poucos escolhidos, Mindfulness no meu entender é uma atitude, um estilo de vida muito importante, já que nos ajuda a apreciar e usufruir a nossa existência. Como diz Nhat Hanh, a consciência plena, Mindfulness é “a capacidade de estar consciente e desperto no presente”.

É a prática contínua de sentir a vida profundamente em cada momento. Essa atitude não requer que se vá a nenhum lugar diferente. Podemos praticar a consciência plena ali mesmo onde estivermos, a cada momento. Podemos continuar fazendo as mesmas coisas que fazemos sempre: andar, sentar-se, trabalhar, comer, falar, com a diferença de que as faremos sendo conscientes do que estamos fazendo. ¹

Uma técnica ou instrumento que pode nos ajudar a praticar a consciência plena é a meditação.

Qualquer pessoa pode meditar e usufruir de seus resultados. Em minha opinião é uma capacidade que todos possuímos em nosso interior porem, em muitas ocasiões está à espera de ser descoberta. Isto acontece porque ninguém nunca nos mostrou ou ensinou.

Quando falamos de meditação imediatamente nossa mente associa ao silêncio. Relacionar meditação e silêncio não está errado, porém não é a mesma palavra.

Faz alguns anos eu consegui entender o que verdadeiramente significa o silêncio.
Em 2012 estive durante várias semanas em Ladakh, no Tibete da Índia.

Tive a oportunidade de consultar com diversos monges o que para eles significava o silêncio. Concretamente um, me afirmou que para ele o silencio era “escutar”, escutar nosso mundo interior para entender toda nossa vida e o que com ela está relacionado.

Em minha opinião, o ser humano é um ser completo, já que, conta com três dimensões que o abrangem por inteiro. Uma dimensão corpórea, uma dimensão racional e uma dimensão que eu chamo de espiritual e que se refere a tudo o que faz parte do nosso mundo interior mais profundo e que se manifesta através da nossa capacidade de transcender.

Cada dimensão produz necessidades que tem que ser escutadas para poder viver de forma equilibrada.

Cuidamos da dimensão corpórea com uma alimentação saudável, a prática de esportes, e a atenção a tudo o que diz respeito à parte física.

Cuidamos da dimensão racional com o sono, a leitura e relacionamentos saudáveis.

Cuidamos da dimensão espiritual parando e entrando em nosso mundo interior.

A meditação é um modo de colocar tudo isso em prática.

Através do silêncio, é possível ouvir todas as emoções e sensações que a nossa dimensão corpórea e relacional envia à nossa dimensão mais íntima.

Do mesmo modo, para mim, o silêncio é o modo que o ser humano tem de dialogar consigo mesmo.

Não existe verdadeiro diálogo se não houver capacidade de escutar².

Escutar não é o simples ouvir.

Atualmente estamos em uma época onde há muita dificuldade para a escuta. Estamos num momento onde as sensações rápidas e as imagens ganham. Eu mesmo sinto nos meus relacionamentos normais como há uma grande dificuldade na vida diária de escutar e de se escutar. Existe “barulho” externo demais e como conseqüência, “barulho” interno para nós.

Por tudo isto, uma das dificuldades que as pessoas podem ter hoje em dia em relação ao seu mundo interior, é fruto desta dificuldade em escutar. Colocando um exemplo para melhor entendimento desta questão, seria como querer colher os frutos de uma horta sem antes preparar e trabalhar bem a terra.

Quantas pessoas não se sentem bem consigo mesmas porque não se conhecem e não falam com o seu mundo interior! Não podem falar porque não sabem escutar.

É importante ensinar as pessoas a escutar a vida e a escutar a si mesmas.

Aprendendo a escutar tudo o que nossas dimensões pessoais nos dizem, podemos entender e perceber o que é de fato nossa vida e assim, viver a realidade como ela é.

Mindfulness, concluo, é saber escutar a vida, minha vida e a vida que me cerca, para poder estar desperto no presente.

Lucio Saggioro

Tradutora Carmen Lastiri Huarriz
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¹Cfr.www.tnhspain.org. Sobre a mensagem de Nhat Hanh.
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