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O INIMIGO ESTÁ DE VOLTA – O perigo representado pelos Vapes

Quem observa as fotos impressas nas embalagens de cigarro, fica chocado: peles necrosadas, doenças terminais, sofrimento. Essas advertências começaram a ser feitas pelo Ministério da Saúde em 2002 a partir de recomendação da OMS. A campanha surtiu efeito, já que houve queda no número de fumantes e a indústria do tabaco sofreu grandes perdas, sobretudo com as multas milionárias que teve que pagar por ter induzido milhares de pessoas a fumarem. Na década de 70 era comum ver propagandas na TV associando consumo de cigarro a sucesso, força e beleza; hoje isso é proibido.

No entanto, o inimigo está de volta revestido de nova embalagem seduzindo jovens e adolescentes. Trata-se dos cigarros eletrônicos conhecidos como “Vapes”. O vape é um dispositivo alimentado por bateria que aquece os líquidos interiores contendo nicotina, aromatizantes e outras substâncias prejudiciais à saúde. Os vapes podem ser comprados em lojas físicas ou adquiridos pela internet. A popularidade desse produto decorre da falsa ideia de que ele não faz mal, que é apenas fumaça com gostinho de frutas e de que não tem nicotina. Muitos fumantes deixaram o cigarro e passaram a fumar esses eletrônicos acreditando estarem mais seguros.

Ao contrário do que se imagina, os vapes provocam níveis de intoxicação, no organismo superiores aos do cigarro convencional. Foi o que mostrou a pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo em parceria com o Incor e a FMUSP. A análise toxicológica realizada em 200 fumantes de cigarros eletrônicos, detectou níveis de nicotina de três a seis vezes maiores do que os encontrados em usuários de cigarros convencionais. Outro problema é a dependência que o consumo de vape produz. Uma vez estabelecida, é extremamente difícil largar, devido a sensação de satisfação que ele produz no cérebro, através da dopamina.

Por que as pessoas consomem substâncias nocivas? Talvez pela curiosidade aliada ao desconhecimento dos seus malefícios, mas também pela necessidade de desafiar os perigos na busca de autonomia e liberdade. É como se tivessem a necessidade de fazer algo contrário à cartilha recomendada pela Família, pelo Estado ou pela Igreja. Vapes, narguilé e álcool são drogas que oferecem, a curto prazo, satisfação e prazer, mas com o passar do tempo, causam dependência. Faltam campanhas de conscientização a respeito dos perigos presentes nas drogas lícitas ou ilícitas. Falta entender, também que o usuário precisa de acolhimento e, em alguns casos, de tratamento psicológico, não de repressão. Por fim, falta saber que tudo que nos afasta da consciência, não é bom, pois o grande “barato” é estar plenamente consciente e celebrar a vida naturalmente.

 Romildo R.Almeida

Psicólogo clínico

TRAGÉDIA CLIMÁTICA NO SUL – O país se une, através da Compaixão, para ajudar o próximo.

As cenas tristes mostradas sobre a tragédia do Rio Grande do Sul, custam sair da nossa cabeça. Pessoas desesperadas depois de perderem tudo, cidades ilhadas, famílias desoladas vivendo em abrigo provisório e até animais domésticos isolados nos telhados. Se essas imagens causam comoção em quem as assiste pela TV, imaginem o que elas podem causar na mente de quem está lá, vivendo o desfecho como vítimas da catástrofe. Mesmo com o fim das cheias dos rios e a limpeza das casas, pessoas tentam voltar à vida normal, mas se deparam com outro problema: as “cheias mentais” provocadas pela tragédia que não saem da memória. A simples lembrança provoca a revivência dos acontecimentos, num fenômeno conhecido como TEPT – Transtorno do Estresse pós-traumático.

Os eventos mais propensos a causar esse transtorno, são aqueles que invocam sentimentos de medo, desamparo ou horror. Os principais sintomas incluem a revivescência repetida do evento traumático sob a forma de lembranças invasivas (“flashbacks”). Por muito tempo, as vítimas, têm pesadelos envolvendo os acontecimentos e passam a ter dificuldades para dormir devido as crises de ansiedade. A atividade social também fica comprometida pois o indivíduo acometido desse transtorno perde o encantamento pela vida e se afasta dos amigos. Até mesmo a libido é afetada dificultando relacionamentos afetivos e sexuais. São louváveis as iniciativas em todo o país para ajudar as vítimas no aspecto da reconstrução das perdas materiais, mas a reconstrução da pessoa traumatizada, também é uma etapa necessária.

Algumas pessoas com TEPT, necessitam de tratamento psiquiátrico e Psicoterapia Cognitiva para ajudar na reconstrução do bem-estar emocional e promover a resiliência necessária na superação dos desafios. Certamente, existe um turbilhão de emoções e sentimentos represados na mente de quem passou por situações desse tipo, que precisam ser expressados e validados, principalmente nas crianças. Às vezes, na ânsia de querer ajudar, passamos a dar conselhos e a narrar nossas experiências pessoais de superação, na tentativa de encorajar o outro. Mas, temos que resistir a essa tendência automática, pois o papel principal de quem fornece apoio emocional é o de oferecer-se ao outro através da compaixão acolhendo cada palavra, cada lágrima, cada gesto. Não se preocupe em dizer nada, apenas ouça, afinal o que faz uma pessoa sentir-se melhor, não são as palavras que você diz, mas o tipo de conexão que você estabelece com ela. Escutar com o coração também é uma atitude concreta de amor.

Romildo R. AlmeidaPsicólogo clínico

Páscoa e Ressignificação – Quando o velho dá lugar ao novo

Revendo a nossa história de vida, muitas vezes nos deparamos com experiências tristes que nos fazem pensar: Como seria bom se tivéssemos uma borracha que apagasse os nossos erros do passado, as lembranças dolorosas, os traumas e também nossas culpas. Teríamos a oportunidade de começar vida nova com um novo sentido, uma nova oportunidade. Infelizmente essa borracha não existe da maneira como imaginamos, mas a boa notícia é que podemos construir uma nova estrada, sem destruir aquela que já existia; podemos nos tornar pessoas novas e o nome dessa estrada é Ressignificação.

Ressignificar é mudar o significado dos acontecimentos através de uma postura compassiva e autocompassiva. Não é o mesmo que autoindulgência onde nos desculpamos pelos nossos erros com a tradicional atitude evasiva, representada pela frase: Errei, mas quem não erra. Ressignificar é compreender de forma profunda o nosso passado, avaliar as circunstâncias que envolveram, o nosso grau de consciência e, a partir disso, nossa vontade genuína de querer fazer diferente. A história de Saulo que passou de perseguidor de cristãos à homem piedoso e convertido, é um exemplo bíblico de tantas experiências que ocorrem em nosso meio.

Considerando a possibilidade da Ressignificação, ninguém está forçado a viver um destino manchado por um passado negativo e vergonhoso. Seja um dependente químico, um criminoso, um pervertido, etc. Não importa o quão errado você foi no passado, você pode se reconduzir à uma nova vida dando a si mesmo uma nova chance. Muitas vezes não é a sociedade que julga e sim, nós mesmos que através de uma postura crítica e pesada, condenamo-nos a viver dentro de um enredo trágico e negativo, acreditando na falsa ideia de que não podemos mudar.

            Este mês de abril em que celebramos a Páscoa de Jesus poderíamos buscar força e inspiração para começar esse trabalho, uma vez que Páscoa tem a ver com mudança, transformação e renascimento. Se ampliarmos esse significado e trazê-lo para a nossa realidade, podemos dizer que Páscoa é sair de um estado de prisão para alcançar a liberdade através da Ressignificação. Então, mais do que chocolates e bombons, que a sua Páscoa seja recheada de paz, harmonia, gratidão e compaixão. Celebre esse momento deixando que morra no seu coração o velho ligado ao passado e ao sofrimento para dar lugar ao novo, pois Páscoa é vida nova.

Romildo R.AlmeidaPsicólogo clínico

Mulher Invisível – A invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher.

O tema da Redação do Enem de 2023 trouxe à luz uma realidade pouco discutida na sociedade, trata-se da invisibilidade do trabalho de cuidado exercido pelas mulheres no Brasil. Trabalho de cuidado é o conjunto de atividades físicas e emocionais, remuneradas ou não que garantem o bem-estar e a sustentação da vida, tais como: dar banho, alimentar, ensinar, assistir crianças ou idosos. Ao longo da história, esses trabalhos sempre estiveram relacionados ao gênero feminino. Até hoje, lavar e passar a roupa, manter a higiene da casa, preparar comida e zelar pela saúde da família, na maioria das vezes, são tarefas exercidas por mulheres. A noção de invisibilidade decorre do fato de que esses trabalhos não são reconhecidos formalmente.

Uma pesquisa feita pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2023, apontou que o simples fato de ser mulher, acarreta um acréscimo de 11 horas semanais dedicadas exclusivamente aos trabalhos de cuidados que, logicamente, não são remunerados e nem entram na contagem por tempo de serviço. Outro lado da questão, é o trabalho doméstico remunerado formado pelas babás, mensalistas, diaristas, cozinheiras e cuidadoras cujo ambiente de trabalho é uma casa de família. A maioria é formada de mulheres pretas, que recebem não mais do que um salário mínimo e somente 25% possuem vínculo empregatício. Eis aqui, outro tipo de invisibilidade.

A perspectiva do futuro, não é muito animadora considerando uma sociedade que está envelhecendo e que, portanto, necessitará cada vez mais de cuidados pessoais. De acordo com a OIT (Organização Internacional do Trabalho) 2,3 bilhões de pessoas no mundo, vão precisar de cuidados diversos. Vemos, portanto, um grande campo se abrindo que precisa ser reconhecido, pois o que, antes era um privilégio de famílias abastadas, tornou-se uma necessidade, até mesmo, para famílias de baixa renda. No Brasil, a subvalorização dessa categoria de trabalhadores, em grande parte devido à falta de consciência a respeito de sua importância, trará consequências negativas.

Neste mês de março, mês em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, devemos aproveitar a oportunidade para apoiar a luta histórica das mulheres em busca de igualdade, no combate à violência de gênero que leva ao feminicídio e na criação de políticas públicas que garantam o seu bem-estar. Precisamos também combater o nosso próprio preconceito e discriminação, fruto da herança patriarcal que está no nosso inconsciente. Sem essa postura, as felicitações com mensagens bonitas, flores, chocolates, parabéns pelo seu dia, serão apenas atitudes vazias e sem sentido.   

Romildo R. Almeida – Psicólogo clínico

ACEITAÇÃO OU RESIGNAÇÃO – O que fazer quando o sofrimento é maior do que nós mesmos?

O ser humano não foi feito para sofrer, pelo menos de acordo com as nossas bases instintivas. Quando somos expostos a situações que envolvem dor, a tendência natural é reagir com inconformismo e indignação e o pensamento que prevalece dentro de nós é: Não quero isso pra mim.

O fato de não aceitarmos um determinado acontecimento, nos lança numa cadeia de sentimentos e emoções que se combinam e se multiplicam e isso só faz piorar as coisas. É dentro desse contexto que começa a depressão e, por conseguinte, uma série de outros problemas ligados a ela.

A Psicologia nos coloca diante de uma questão interessante quando se trata de lidar com a dor seja em relação a uma doença física ou a um acontecimento que nos perturba como o rompimento de uma relação afetiva. O que fazer? Aceitar ou resignar-se.

Essas são as duas posturas que podemos ter diante das perdas que nos afligem. A princípio, parece que querem dizer a mesma coisa, mas na verdade há uma grande diferença entre elas.

Aceitar uma situação difícil significa parar de gastar energia com culpa e autorrecriminações e ao invés disso, focar a atenção naquilo que podemos fazer de forma concreta para conviver melhor com a dificuldade. Resignação, por outro lado, é entregar-se passivamente e desistir de lutar considerando-se incapaz de enfrentar o problema. Imaginemos uma pessoa que sofre de uma doença incurável. Aceitar o fato a coloca numa posição ativa diante da doença fazendo-a focar nas possibilidades que ainda tem, buscando viver o momento presente, valorizando as mínimas coisas que é capaz de fazer independentemente de suas limitações. No mesmo exemplo, a resignação faria dela uma pessoa apática e lamentosa em relação ao ocorrido.

Atrairia para si o olhar de pena por parte daqueles que a cercam.

Em outras palavras ela não aceita o destino, apenas se submete a ele de maneira passiva justificando com a frase: “fazer o que? Deus quis assim”.

A ciência tem demonstrado que a maior parte das doenças afeta muito mais a nossa mente do que nosso corpo e que o processo de cura conta com uma participação importante do psiquismo. Saber administrar os próprios pensamentos cultivando uma vida serena é condição básica para se obter uma vida melhor.

Portanto, levante a cabeça e siga em frente. Desenvolva atitudes de gentileza e acolhimento e autocompaixão. Afinal, se Deus te ama, você também tem que se amar. Aceite-se exatamente como você é.

Romildo R.Almeida – Psicólogo clínico

RUMINAÇÃO MENTAL – A Depressão começa nos pensamentos distorcidos

O termo ruminar é normalmente utilizado para entender o processo de digestão de alguns animais como bois, camelos, girafas entre outros.

O processo de ruminação consiste em mastigar, engolir e depois retornar com o alimento à boca para ser remastigado e finalmente digerido.

Mas as ciências que se ocupam da saúde mental se apropriaram desse conceito para explicar um comportamento muito comum nas pessoas depressivas: Trata-se da Ruminação mental.

Estamos falando daquele pensamento negativo, que martela noite e dia. O problema da ruminação mental é que ela é a base da depressão.

Quando uma pessoa está em sofrimento emocional, é comum que tenha uma percepção distorcida da realidade e a depressão é realimentada por esses pensamentos formando um circulo vicioso.

A pessoa sente-se como se estivesse possuída de algum espírito maligno ou vítima de algum trabalho espiritual negativo.
Esses “espíritos” ruminam frases que destroem a nossa autoestima: “Sou um fraco”, “sou um perdedor”, “sou incompetente”.

Na verdade, são pensamentos automáticos gerados por crenças que desenvolvemos desde a infância. São ideias distorcidas baseadas em fases da nossa vida nas quais não tínhamos ainda uma mente capaz de discernir o falso do verdadeiro.

As experiências negativas tendem a solidificar esses pensamentos que mais tarde se tornam crenças centrais que compõem a nossa autoimagem.

Para não cair nas armadilhas mentais que nos aprisionam nessas crenças distorcidas, é preciso identificar os pensamentos automáticos.

Nem sempre pensamos o que queremos, pois os pensamentos têm vida própria, eles brotam na nossa mente sem a nossa permissão.

Quando conseguimos identificá-los, devemos adotar uma postura de acolhimento e aceitação, pois eles não são frutos da nossa reflexão consciente e inteligente.

Devemos tratá-los como nuvens no céu que se formam e se dissipam por si mesmas, independentemente das nossas ações.

Todavia, para muitas pessoas a autorreflexão não basta para identificar e lidar com a Ruminação. Nesse caso, é necessária a intervenção de um Psicólogo que através da abordagem Cognitivo Comportamental, poderá ajudar no entendimento e elaboração do problema.

As práticas de meditação de atenção plena mindfulness também são eficazes, uma vez que se contrapõem ao piloto automático, estado em que as Ruminações mentais acontecem.

Através dessas práticas podemos cultivar um estado de maior consciência do momento presente o que nos proporciona fazer melhores escolhas.

Não podemos ser escravos dos nossos pensamentos, afinal somos livres.

Pensamentos nada mais são, do que pensamentos.

POR QUE A GUERRA? A interessante pergunta que Einstein fez à Freud

Enquanto você lê esse artigo, milhares de pessoas estão morrendo em decorrência de guerras ou sofrendo as suas consequências. Desde 2525 a.C, quando aconteceu o primeiro conflito militar de que se tem notícia, a humanidade não parou mais de guerrear por diferentes motivos como: desentendimentos religiosos, interesses políticos, econômicos, rivalidades étnicas, etc. Além de causar mortes, as guerras provocam perdas econômicas, destruição do meio ambiente e traumas que ficam na mente dos sobreviventes.

Depois da guerra Franco-Prussiana, em 1871 que terminou com mais de 150 mil mortos, instaurou-se na Europa um movimento chamado de Belle Époque. De fato, era o sonho de uma bela época em que a humanidade viveria em paz, a partir dos avanços tecnológicos proporcionados pela Revolução Industrial. Os grandes pensadores ficaram tão otimistas que imaginavam que naquele mundo civilizado não haveria mais lugar para as guerras. No entanto, em 1914 eclodiu a primeira guerra mundial que deixou mais de 40 milhões de mortos e 30 anos mais tarde veio a segunda que matou mais de 55 milhões.

Em 1932 Albert Einstein escreveu uma carta à Sigmund Freud, criador da Psicanálise, com a seguinte pergunta: Por que a guerra? Existe alguma forma de livrar a humanidade dessa ameaça? A resposta de Freud foi desanimadora; segundo ele, existem dois instintos básicos na nossa psique: o instinto de vida ligado à preservação da mesma, chamado de Eros e o da Morte ligado a destruição, chamado de Thanatos. Esses dois princípios fundamentais se combinam e se completam de modo que um depende do outro. Por esse motivo, segundo Freud, a violência sempre acompanhará o homem no curso da sua história.

Considerando essa teoria, não devemos esperar que a paz aconteça, pois a humanidade carrega na sua constituição a semente da violência como estratégia de poder e dominação.  Violência contra seu semelhante, violência contra os animais, contra o meio ambiente e, em última análise, contra si mesmo. No entanto, não podemos viver de teorias. Precisamos acreditar na paz e construí-la de maneira simples a partir da nossa realidade. É preciso começá-la de algum lugar e o melhor lugar é dentro de nós mesmos. Precisamos ter paz interior para depois construir a paz exterior. Que a paz seja buscada, mesmo em meio a guerra, afinal, como disse o próprio Albert Einstein “Não se pode manter a paz pela força, mas sim pela concórdia. ”

POSITIVIDADE TÓXICA – A negação do sofrimento pode ser prejudicial à Saúde mental.

Todos devemos encarar a vida com otimismo e ter uma postura positiva frente às adversidades. Não há dúvidas de que a motivação é uma alternativa melhor do que o pessimismo em qualquer situação. Mas existe uma ideia que tem se difundido muito nos últimos tempos, principalmente nas mídias sociais. Trata-se da Positividade Tóxica que é o excesso de otimismo que as pessoas impõem a si mesmas no processo de condução de suas vidas. Evitar compulsivamente o contato com emoções negativas, disfarçar o sofrimento, forçar falsos sorrisos, podem ser, a longo prazo, atitudes prejudiciais à saúde mental.

A negação, conforme sustentava Sigmund Freud, é um mecanismo de defesa do ego e está relacionada ao propósito de fuga da realidade. A princípio parece bom, mas a longo prazo é prejudicial à saúde mental causando ansiedade, pânico e depressão. Por outro lado, a aceitação natural dos acontecimentos penosos, vivenciando todas as suas etapas, contribui para a sua superação, além de trazer amadurecimento e equilíbrio à personalidade. Não devemos confundir Positividade Tóxica com o otimismo que algumas pessoas têm. Enfrentar as adversidades com esperança, sem ignorar a realidade é bem diferente da postura do indivíduo com Positividade Tóxica.

A falta de empatia é, também, uma característica marcante da Positividade tóxica; o indivíduo preocupado consigo mesmo, não consegue colocar-se na perspectiva do outro, tornando-se, assim, egoísta. Quando alguém compartilha um sofrimento com um positivista tóxico, é comum ouvir, como resposta, frases evasivas tipo: isso não é nada, você é forte, etc. A tendência de querer positivar também é outra característica marcante do positivista tóxico. Por exemplo, quando alguém reclama do emprego, ouvir de volta algo como pelo menos você tem emprego. Isso promove desconexão além de não validar o sentimento do outro.

A ideia de que o agradável, o prazeroso, o motivador, devem estar acima das outras emoções consideradas negativas, gera egoísmo tanto no aspecto individual como no social. O distanciamento empático não contribui para um ideal de sociedade humana e fraterna, sobretudo nesses tempos difíceis pelo qual o mundo está passando. Desligar o rádio e a TV, fechar os olhos para as tragédias, não melhora o indivíduo e tampouco o mundo em que ele vive. Compartilhar a humanidade é aceitar que a dor do outro é, também, a minha dor. Nesse contexto, somos todos palestinos, judeus, russos e ucranianos, pois somos todos humanos. É melhor abrir os olhos para ver e o coração para sentir, pois o pior sofrimento é aquele em que fingimos estar felizes.