Blog

QUAL O SENTIDO DA VIDA? Por que o Suicídio entre Jovens está aumentando no Brasil?

“Minha vida não tem muito sentido, sinto que não faço nada certo, fico a maior parte do tempo fechado dentro do meu quarto e não tenho amigos. Às vezes sinto que é melhor se eu não existisse; não sei se vale a pena continuar vivendo assim.” O relato acima é imaginário, mas certamente representa o sentimento real de muitos jovens que sofrem de Depressão e estão no grupo de risco daqueles que podem cometer suicídio. Desde 2015 a campanha Setembro amarelo se dedica a conscientizar as pessoas através de debates e eventos sobre esse importante tema.

Segundo a OMS, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade de 15 a 29 anos. De maneira geral, a ideia de deixar de existir está associada ao desenvolvimento de estratégias para lidar com problemas e é comum num jovem em formação, mas o perigo começa quando se torna uma ideia compulsiva e o indivíduo vê nessa via, sua única saída. Nesse caso, estamos diante de um sério problema que, se não for devidamente tratado, pode gerar consequências trágicas. Infelizmente, no Brasil houve um aumento de casos, de acordo com pesquisa realizada pela Unifesp, publicada em 2019.

A Psicologia, nas suas diversas abordagens, pode ajudar as pessoas a superarem esse quadro. Normalmente é o pensamento que precisa ser tratado. Muitas vezes o pensamento, apresenta distorções cognitivas que geram sentimentos negativos, por exemplo: “Minha vida não vale a pena porque não consigo me relacionar com ninguém. ” O relacionamento social e afetivo é uma das competências humanas, mas não pode representar o sentido da vida. A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é uma abordagem que pode promover uma melhora na relação do indivíduo consigo mesmo, através da análise do pensamento.

A causa do sofrimento psicológico está ligada à falta de sentido. De onde vim? Para onde vou? Para que estou vivendo? – são perguntas que todos fazemos; o vazio existencial produz pensamentos autodestrutivos e precisa ser preenchido com motivações verdadeiras. Mas o melhor conselho é: seja paciente consigo mesmo, considere os pensamentos como eventos mentais, não como realidade. Evite ficar ruminando sobre acontecimentos do passado; viva apenas o momento presente. Ao invés de esperar que a vida tenha sentido, procure dar sentido à vida fazendo algo de útil não só para você, mas para toda a comunidade. A vida é um dom e precisa ser honrada.

PATERNIDADE ATIVA – Repensando a Masculinidade a partir da Paternidade

Já foi o tempo em que ser pai resumia-se a trabalhar para sustentar a família e o seu papel dentro de casa não passava do comediante divertido que de vez em quando brincava com as crianças, enquanto a criação e educação ficava a cargo da mãe. Com as mudanças ocorridas nos últimos tempos na configuração familiar, as figuras paterna e materna estão se renovando e hoje espera-se do pai, um papel mais ativo no cuidado com os filhos. A noção de Paternidade Ativa surgiu a partir de um documento produzido pela Unicef em que se aborda justamente a importância da figura paterna no processo de educação.

A formação da personalidade e do caráter do que vai ser o adulto no futuro, depende em grande parte do modelo com o qual a criança cresceu e aprendeu, num processo complexo que envolve a interação entre pais e filhos em diversas situações, numa constante troca, que se dá tanto no aspecto consciente quanto no inconsciente. A pergunta interessante então é: de onde vem o caráter agressivo e muitas vezes violento que se observa em alguns homens quando eles se relacionam com as mulheres? Relacionado a mesma pergunta: quantos casos de estupro e de violência contra a mulher estão presentes nos noticiários nos últimos tempos?

Uma reflexão sobre as questões acima nos faz entender o quanto é importante o homem ocupar o seu devido lugar na formação das crianças e se fazer mais presente, sem os estereótipos machistas que ensinam que homem não chora, não sente dor, é corajoso etc. Por outro lado, que a mulher é frágil, delicada, carente e insegura. A figura ativa do pai nos cuidados com a criança, pode contribuir para alterar esses padrões, trazendo para a formação de sua personalidade, o masculino positivo relacionado com atitudes de acolhimento, respeito, emotividade, compaixão etc. Historicamente essas qualidades estão associadas a figura feminina doada pela mãe enquanto que o oposto disso vem do masculino representado pelo pai.

Felizmente essa cultura está mudando aos poucos e hoje vemos homens preocupados em ter mais tempo de qualidade junto aos filhos. Uma pesquisa realizada pela USP em 2017 relatou diversos benefícios da Paternidade Ativa, tanto para os pais como para os filhos. Num tempo de guerra, de conflitos e de polarização que resulta em violência, precisamos semear a paz e reconstruir a família humana a partir de nós mesmos. Como disse o Papa Francisco: “É necessário esculpir a própria vocação em prol da humanidade e do bem comum. ” Seja um pai ativo na educação de seu filho. Doe-se!

ESCUTAR COM O CORAÇÃO É UM ATO DE AMOR – Precisamos ouvir menos e escutar mais.

Ela está presente em todas as relações. Entre pais e filhos é a base para a construção do ser; entre casais faz a unidade; no mundo corporativo alavanca negócios e entre nações sela acordos promovendo a paz. A ausência dela, no entanto, gera discórdia, cria desconfiança, faz separações e promove a guerra. Estamos falando da comunicação. As sociedades só se formaram porque o ser humano foi capaz de se comunicar a partir das suas necessidades comuns, cooperando por segurança e subsistência. Os meios de comunicação permitem a troca de informações em tempo real, mas apesar de tantos avanços tecnológicos ainda não aprendemos a escutar.

 Diferença entre ouvir e escutar. Na era dos aplicativos para smartphone o ouvido tornou-se um órgão essencial. É quase impossível não ver alguém nos transportes coletivos portando um fone de ouvido. Ouve-se de tudo: música, cultura, esportes, audiolivros, etc. Nossos ouvidos são estimulados constantemente, mas apesar disso ainda não aprendemos a escutar. Quando nos referimos a ouvir e escutar, não estamos falando da mesma coisa. Ouvir se refere ao sentido biológico da audição; é uma atividade puramente mecânica e automática, ou seja, você não tem o controle sobre ela a menos que tape os ouvidos. Ao contrário disso, escutar é um ato consciente que depende da sua vontade. Infelizmente as pessoas estão ouvindo muito, mas escutando pouco.

O padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral do povo de rua de São Paulo, nos dá uma verdadeira lição sobre esse tema, através do seu trabalho junto ao povo que vive nas ruas. Com carinho e afeto ele escuta com o coração a história de cada um deles. Segundo ele, essas pessoas precisam ser tratadas com humanidade. De fato, só percebemos a miséria material que se apresenta aos nossos olhos, mas ignoramos que aquelas pessoas são seres humanos como nós. Além de abrigo e comida, elas precisam de um olhar compassivo, um abraço e serem alvos não do nosso julgamento carregado de preconceito, mas sim da nossa empatia e solidariedade.

Escutar é um ato de amor. Se você pensa que não tem nada para dar a alguém que sofre, saiba que escutá-lo com atenção é um ato que revela amor e caridade. Para escutar o outro, você precisa abandonar um pouco a si mesmo numa atitude de pura doação. Você deve escutar sem julgar, sem criticar, apenas receber, aceitar e acolher reconhecendo que aquela pessoa é um ser igual a você. Ele também tem uma história, família e tal como você, também quer ser feliz, não quer o sofrimento. Escutar com o coração é partilhar nossa bondade e fazer uma imersão autêntica e reveladora na maravilhosa experiência de ser humano.

Você sonha em ser mãe? – Os desafios da maternidade nos dias de hoje.

Uma pesquisa realizada pela Bayer Indústria farmacêutica aponta, que no Brasil 37% das mulheres não querem ter filhos. Essa estatística confirma o que já percebemos informalmente, ou seja, um grande número de mulheres que não veem mais a maternidade como condição básica para a felicidade. Notem que esse número ainda é pequeno se comparado com países da Europa onde chega a 72%. Essas mulheres fazem parte da geração “NoMo” derivado da expressão em inglês No mother que dá título ao movimento de mulheres que não querem ser mães.

Se considerarmos que as políticas públicas e privadas não favorecem muito a maternidade, não podemos julgar como egoístas aquelas mulheres que pensam mais em carreira e realização profissional deixando em segundo plano o sonho de ser mãe. De fato, a sociedade desencoraja a maternidade à medida em que não cria condições justas para o seu estabelecimento. Todos sabem das dificuldades que uma mãe encontra para matricular seu filho numa creche, da carga mental representada pela responsabilidade de ter que administrar um lar, cuidar de um bebê, além do conflito óbvio entre ser uma profissional de sucesso e uma mãe dedicada.

O Papa Francisco resgatou a importância do papel feminino na criação, afirmando num Congresso para leigos: “Tantas coisas podem mudar e mudaram na evolução cultural e social, mas fica a realidade que é a mulher que concebe, carrega dentro de si e dá à luz os filhos dos homens. Chamando a mulher à maternidade, Deus lhe confiou numa maneira toda especial o ser humano”.  Por outro lado, o papa também alerta sobre o perigo de ver só a questão social da maternidade, desprezando na mulher suas potencialidades e a sua vocação para outras demandas inclusive eclesiásticas.

Felizmente ainda estamos vivendo a Páscoa, tempo de esperança e renovação, que se converte em oportunidade para renunciarmos à tendência automática de julgar, criticar e condenar. Vamos cultivar a empatia, uma atitude propícia para esse momento pelo qual passa a sociedade. Pela empatia podemos enxergar melhor o rosto daqueles que sofrem e fazer eco com as suas causas.

Definitivamente, a mulher precisa ser respeitada no seu direito e liberdade. A partir disso, poderá brotar a sua vocação verdadeira fazendo florescer um caminho para a vida plena.

DA SOMBRA À LUZ – O que podemos fazer para construir a paz?

Estamos celebrando a Páscoa, uma época de alegria e renovação. Mas é difícil envolver-se num clima festivo em meio a morte e devastação provocada pela guerra entre Rússia e Ucrânia. É triste ver a imagem de idosos, mulheres e crianças batendo em retirada de suas casas, deixando para trás um rastro de destruição. Como entender que em pleno século 21 com tanto avanço da ciência, a guerra ainda seja uma realidade? Enfim como explicar a guerra às crianças se nem nós adultos conseguimos entender o que está acontecendo?

O Iluminismo, movimento que ocorreu entre os séculos XVII e XVIII, inaugurava uma época em que a razão deveria prevalecer e nortear o progresso da humanidade. Não haveria mais lugar para expansionismo, colonialismo, escravidão nem subjugação de um povo pelo outro. Dentro dessa ótica, num mundo governado pela razão não haveria mais espaço para guerras, nem atrocidades. Mas, apesar das conquistas impulsionadas pelo Iluminismo como a Revolução francesa, Revolução industrial, ainda vivemos uma época de barbárie onde seres humanos matam outros seres humanos, por quê?

De acordo com Carl Gustav Jung, anterior ao inconsciente pessoal existe o inconsciente coletivo. Ali estão depositados os substratos das experiências do homem desde os tempos mais remotos. No inconsciente coletivo reside a Sombra que representa o oposto do Ego consciente. A Sombra tanto no Inconsciente pessoal como no Coletivo é aquela parte animalesca representada pelos desejos imorais, atitudes violentas e atrozes. A Sombra, quando não elaborada, traz do inconsciente o aspecto primitivo; ela fez todas as guerras e está fazendo esta e vai fazer a próxima, isto, evidentemente, se houver a próxima.

A humanidade é composta por seres humanos e enquanto não houver paz e segurança em nível micro, não haverá no macro. Não pode haver poucos com muito e muitos com pouco. A guerra é feita pela ambição de uns e a fragilidade de outros. Enfim a paz só será construída a partir do micro, ela começa em cada ser humano, se estende para as famílias, cidades, constrói um povo e faz governantes. Por mais utópico que pareça, a paz mundial tem que começar em cada um de nós; chega de guerra. Carl Gustav Jung disse: “Nós precisamos entender melhor a natureza humana, porque o único perigo real que realmente existe, é o próprio homem”.

Relato sobre Mindfulness – Autor: Danilo Nogueira de Almeida

“Não Tenho Pressa 

Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega –
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui”.

Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos”
Heterónimo de Fernando Pessoa

Chegado o final dessa nossa caminhada, percebo que essa vivência de 8 semanas nos deu ferramentas para fazer mudanças em nossa consciência, nosso estado de espírito, e em nossas vidas como um todo. Na minha percepção, não temos como fazer mudanças radicais ou nos transformarmos completamente em 8 semanas. Mas, pelo que observei, o propósito desse programa nunca foi impor uma mudança rápida ou radical em nossas vidas, ou eliminar sofrimentos ou pensamentos negativos, ou mesmo sintonizar nossa mente exclusivamente em pensamentos e atitudes positivos.

Compreendi que, no lugar disso, o programa nos faz um convite, sem prazo de validade ou qualquer tipo de pressão, para ocuparmos um lugar que a vida a todo momento nos oferece e que está sempre disponível para nós.

Trata-se de um convite para viver verdadeiramente e estar presente e em contato com o aqui e o agora. Esse lugar, que somos convidados a ocupar, pode estar em cada centímetro quadrado que reveste nosso corpo, ou na brisa que toca nosso corpo, nos sons que chegam a nossos ouvidos, nos aromas que chegam a nossas narinas, cada sabor que nossa língua é capaz de conhecer, ou texturas que nossa pele é capaz de perceber.

O que isso proporciona, segundo puder perceber, é uma experiência de constante redescoberta, distanciando-nos dos caminhos já batidos que nossa mente e corpo simplesmente seguem por impulso, ou por estarmos condicionados a fazer e sentir sempre as mesmas coisas. Em vez de deixar que nosso piloto automático atribua conteúdo positivo ou negativo a esses estímulos, será que não somos capazes de superar essa barreira e permitir que nossa mente observe, compreenda e dê a devida destinação a esses mesmos estímulos, de forma consciente e sem julgamento? Depois de ter participado do programa, posso afirmar que a resposta é sim, e adotar essas atitudes faz parte da essência do mindfulness.

Aprendi que a atitude mindfulness também nos convida a tomar consciência do turbilhão de pensamentos e sentimentos que vêm e vão, como borboletas (ou talvez, moscas) que passam diante de nossos olhos, mas que, apesar disso, não estão aprisionadas em nossa atmosfera. Por mais que, algumas vezes, pareçam se deter por mais tempo ou nos provocar alguma agitação ou perturbação, é da natureza deles, os pensamentos, ir e vir a todo tempo, e uma certeza que podemos ter é de que, se permitirmos, eles sempre tomarão seu rumo natural e em algum momento nos deixarão. Até porque, no lugar de combater esses pensamentos, a proposta do mindfulness é a de tomar consciência deles, ser gratos por aquilo que eles podem nos alertar ou comunicar, e deixar que se vão, na medida em que não forem o foco da nossa atenção intencional no momento presente.

Mas não é apenas isso. Entendi que o mindfulness não pretende nos isolar numa caixa fechada, ou fazer com que vejamos o mundo apenas sob nossa lente pessoal. A proposta vai muito além disso, pois as últimas sessões do programa nos ajudaram a entender e refletir que as mesmas reações, anseios e emoções que existem em nós também já existiram, existem ou existirão naqueles ao nosso redor. A forma como lidamos com essas pessoas deveria sempre partir dessa premissa, independentemente de quem seja a pessoa e qual o grau de importância que ela representa para nós.

E, adotando essa postura, poderemos compreender que somos fruto de nossa própria história, de nossa experiência de vida, que é sempre única, pessoal e intransferível. Essa visão nos ajuda a cultivar a atitude de compaixão – não para simplesmente aceitarmos as coisas como elas são, mas sobretudo para nos colocarmos também no lugar do outro, entendendo as necessidades que existem por trás de cada atitude ou comportamento. E, com isso, buscar conciliar interesses e visões de mundo, isto é, derrubar os muros que erguemos para nos separar do próximo e buscar reconstruir e ressignificar nossas relações.

“Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.

Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma”. Alberto Caeiro

Autor: Danilo Nogueira de Almeida

VIVA O MOMENTO PRESENTE – Como Mindfulness pode te ajudar a sair do negativismo

Quando alguém cumprimenta e faz a clássica pergunta: “Como você está? ”, sem perceber, está estimulando, no ouvinte, o seu sistema límbico que é a mente que trabalha com sentimentos e emoções. É nessa área do cérebro que ficam armazenadas as experiências do passado, positivas ou negativas que vão orientar o indivíduo nas suas avaliações e decisões. A resposta é geralmente sentimental na linha do estou bem, estou mal, aconteceram coisas terríveis, etc.

O sentimento é uma função importante do psiquismo e o seu objetivo é avaliar as experiências de maneira subjetiva, ou seja, se algo é agradável ou desagradável, bonito ou feio, bom ou ruim. Essa função está ligada à afetividade e se baseia nas interações do indivíduo com o meio. A questão é que se consultarmos sempre a mente que trabalha com os sentimentos, podemos concluir que a vida não tem valido a pena, principalmente se considerarmos as perdas causadas pela pandemia nos últimos dois anos.

Não quero aqui, afirmar que o passado e o futuro não sejam importantes, mas se o passado já passou e o futuro ainda não chegou, então qual a razão de indagarmos sobre isso? Na verdade, a vida que realmente importa é aquela que está acontecendo no momento em que você está lendo esse artigo. Quando baseamos nossa avaliação nos sentimentos, entramos num caminho perigoso que pode causar distorções cognitivas e concluir de forma precipitada que não estamos bem. Esse caminho de vitimização é perigoso, pois leva ao desânimo e a depressão.

A vida é uma viajem em que a estrada muda constantemente. Seria bom que a estrada fosse sempre plana e ladeada por belas paisagens, mas nem sempre é assim; às vezes ocorrem buracos e trechos que parecem intransitáveis. Como condutores temos que cuidar para que possamos chegar seguros ao nosso destino. Portanto, quando você se ver dentro de uma nuvem de sentimentos negativos onde o sofrimento parece não ter fim, saiba que você está usando o sistema límbico que é a forma automática de experimentar as coisas, mas ele não é tudo.

Mindfulness pode te ajudar.

Tome consciência do que está acontecendo, perceba que é apenas um trecho ruim da sua estrada e aceite isso com dignidade, pois existem acontecimentos que não podemos mudar. Saia dessa nuvem respirando profundamente, percebendo o ar inundando os seus pulmões e a vida pulsando em cada célula do seu corpo. Sinta-se ancorado no momento presente e que você pode passar por isso. Não existe riqueza maior do que estar plenamente consciente de quem você é e onde você está. Isto é a vida, isto é viver!

NATAL E A DITADURA DA FELICIDADE – Será que todos são felizes menos eu?

Ao ver as ruas enfeitadas com iluminação natalina, pessoas se confraternizando e nas mídias sociais todos se esbaldando de euforia, talvez muitos façam a pergunta do subtítulo deste artigo: “Será que todos são felizes menos eu? ” De fato, para uma boa parte da população, o Natal é um momento nostálgico de tristeza, pois evidencia a ausência de pessoas queridas que estão distantes ou já não estão mais nesse mundo. Comparando a felicidade encontrada nas redes sociais e a vida real, fica evidente o contraste.

Ditadura da felicidade é quando somos induzidos por pressão externa a expressar alegria em algumas ocasiões independentemente do estado interior. Ela se acentua nas festas de fim de ano principalmente para quem já sofre de depressão. A obrigatoriedade de ser feliz a qualquer custo leva muitas pessoas a exceder no consumo de bebidas alcoólicas na tentativa de entrar no clima de alguma forma mesmo que seja de maneira falsa. Existem alguns mitos relacionados à Ditadura da felicidade que precisam ser desfeitos.

É falsa a ideia de que a felicidade é um estado natural de todo ser humano. Esse pensamento só interessa às indústrias farmacêuticas que vendem antidepressivos. A frustração faz parte da vida independentemente da condição social. A internet está cheia de cursos e palestras que se propõem a ensinar o indivíduo a livrar-se dos pensamentos negativos para ter uma vida feliz.  Mas qualquer terapia que se baseie na exclusão ou eliminação de sentimentos, é ineficaz, pois eles sempre retornam com força maior.

A boa notícia é que não precisamos eliminar da nossa mente, aquilo que consideramos negativo. Acolha todas as experiências como se fossem novas, sem julgar, nem criticar. Não fique ruminando pensamentos sobre passado ou futuro. Ao invés disso, habite o seu próprio corpo percebendo a beleza que existe no simples ato de respirar, trazendo leveza e vivendo apenas o momento presente. Aprenda que a beleza do Natal não está nas luzes que enfeitam a cidade, mas na luz que te ilumina por dentro com abundância de paz e serenidade. É na simplicidade de uma criança nascida numa manjedoura que está o milagre que faz o Natal acontecer.

 

      Romildo R. Almeida

      Psicólogo clínico