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COMO PRESENTEAR UMA CRIANÇA? – A sua presença é o melhor presente!

O mês de outubro deveria ser um mês importante para as crianças, mas a alegria maior fica mesmo com o comércio já que esta data é uma das campeãs de vendas só perdendo para o Natal. A maioria dos países celebra o dia das crianças no dia 20 de novembro, data em que foi aprovada na ONU, a Declaração dos direitos das Crianças onde todas elas, independente de raça, credo, cor ou sexo têm direito a receber afeto, amor, compreensão, alimentação, cuidados com a saúde, educação gratuita e contra toda forma de exploração das mesmas.

No Brasil se comemora em outubro, pois em 1957 a Johnson & Johnson juntamente com a Fábrica de Brinquedos Estrela, lançou a “semana do bebê robusto”, concurso de fotografias de bebês enviadas pelos pais para a escolha do “bebê Johnson”.  A campanha foi um sucesso de vendas e desde então se instituiu essa data para presentear crianças. É interessante observar como as datas comemorativas que, a princípio foram instituídas para refletir e valorizar, sobre determinado tema, são sequestradas pela lógica do mercado e se transformam em datas puramente comerciais.

As propagandas nos convencem que dar presentes é manifestação de amor por isso nos entregamos passivamente aos apelos comerciais já que o dar e receber é uma troca que favorece ambos os lados. Isso acontece porque a consciência dá lugar ao piloto automático que age por impulso. Se pudéssemos parar um pouco para refletir, perceberíamos que as nossas crianças precisam muito mais do que brinquedos. Perceberíamos os altos índices de adolescentes fora da escola, crianças que vivem na rua, gravidez na adolescência, trabalho infantil, enfim números que deveriam envergonhar nossos governantes.

As práticas de mindfulness permitem um olhar atento sobre o que está acontecendo no momento presente. A consciência plena permite refletir e questionar: Será que as crianças precisam somente de coisas materiais? Será que dando presentes para as crianças não estamos tentando preencher o vazio que existe dentro de nós mesmos? A oferta mais linda de amor é ser presente. Leo Buscaglia, falecido escritor que mais escreveu sobre o amor, ensina: “A única coisa de valor que podemos dar a uma criança é o que somos, e não o que temos”.

Por que praticar mindfulness com as crianças?

Você já percebeu como tem sido difícil para as crianças se manterem concentradas em tarefas simples do dia a dia? Até uma brincadeira é deixada de lado em poucos instantes, imagine manter o foco numa atividade escolar. Esse tem sido um verdadeiro desafio para familiares e educadores.
As crianças não escapam das consequências da agitação da vida moderna, neste mundo tão sobrecarregado de estímulos, onde elas não possuem filtros para gerenciar tudo isso. Principalmente com o advento da tecnologia digital, vemos até bebês brincando em celulares, horas na frente da tela da TV, do tablet ou computador. Esse uso precoce e demasiado de aparelhos tecnológicos é um fenômeno atual e se transformou na mais nova maneira de entretenimento a que os pequenos estão sujeitos, verdadeiras “babás virtuais”.
Nesta fase de pandemia, que estamos vivendo, onde as crianças estão sendo obrigadas a ficarem mais tempo em frente às telas por conta de aulas online, a tendência é esse problema se agravar ainda mais. É tanto estímulo interessante, colorido e divertido ao mesmo tempo, que a criança não sabe para onde direcionar a sua atenção, sua mente fica dividida e isso faz com que se perca a capacidade de concentração, de sentir o próprio corpo, perceber seus sentimentos, captar o que acontece à sua volta e focar em tarefas simples.
Mindfulness ou atenção plena é a consciência do momento presente, de maneira intencional e sem julgamento. Suas práticas podem treinar a nossa mente a focar na atividade que está sendo realizada.
Para as crianças, a prática de atenção plena deve ser curta, simples e totalmente lúdica para ser atraente e divertido. Podemos também adaptar atividades do dia a dia infantil com a intenção de trazer a atenção plena ao que está sendo realizado naquele momento, por exemplo, na hora do lanchinho é possível estimular que percebam os aromas, as texturas, as cores e que saboreiem cada mordida no alimento com curiosidade.
Contudo é preciso ter cuidado para as crianças não associarem a prática à punição ou transformá-la em mais uma obrigação. As práticas devem ser prazerosas, se não foge totalmente do objetivo pretendido.
Somos todos responsáveis pela saúde mental de nossas crianças e devemos dar a elas a oportunidade de um desenvolvimento pleno e feliz.

PENSO, LOGO SOFRO! – Como lidar com pensamentos indesejáveis?

Nossa mente é uma fábrica de pensamentos. Quando não estamos realizando alguma atividade de maneira focada, o passatempo predileto dela é pensar. Parece que temos um Galvão Bueno, ou seja, um narrador interno que adora contar histórias para nós mesmos. Viajamos pelo passado, pelo futuro, imaginamos coisas possíveis e impossíveis. No pensamento tentamos resolver problemas, pagar contas, preparar receitas, conversar com amigos e até brigar com inimigos. O que há de errado com isso? A princípio nada, pois o pensamento é necessário para estabelecer metas, realizar projetos e organizar nossa vida em todos os sentidos.

O problema começa quando a atividade de pensar se intensifica e se torna o modo padrão de funcionamento mental. Quando isso acontece perdemos energia e com ela a capacidade de ser consciente. Nesses tempos de pandemia onde temos que passar muito tempo isolados dentro de casa com poucas atividades sociais, o problema se agrava gerando inquietude, o pensamento fica acelerado e pode ser um gatilho para ansiedade e até depressão. Em casos assim, podemos dizer que fomos sequestrados e nos tornamos reféns de nós mesmos.

Como sair dessa armadilha? A verdade é que nunca conseguiremos parar de pensar, mas podemos oferecer à nossa mente um pouco de paz em meio ao caos. O primeiro conselho é: pare de brigar consigo mesmo. Comece a aceitar que os pensamentos são inevitáveis e inconscientes. Saiba que tentar evitá-los, só faz piorar. Entenda que a atividade de pensar está ligada às informações que chegam a nossa mente, através do ego. Mas o ego é como uma lente e como toda lente não é perfeita, existem distorções. Então não podemos dar muito valor ao que pensamos principalmente àquelas produções mentais excessivamente críticas.

Ao invés de lamentar o passado ou temer o futuro, deveríamos focar a atenção no aqui e agora, pois o passado já passou e o futuro ainda não aconteceu; é este o momento que estamos vivendo. Viver o momento presente, com atenção plena é o contraponto ao modo pensante de uma mente crítica e negativa. É utilizar a lente que nos permite curtir a beleza da vida nos seus detalhes sutis e que nos são revelados a cada instante.

O FIM DA PANDEMIA E O NOVO NORMAL

A moda agora é falar do novo normal; esse tema está em discussão em todas as mídias e o objetivo é debater como será a vida das pessoas depois que passar a pandemia. Muitos defendem que várias mudanças acontecerão e afetarão o comportamento das pessoas. Mas, para além da máscara e do álcool em gel, debater o novo normal é partir do pressuposto que existia um normal e nesse ponto não dá para seguir na discussão sem antes fazer uma reflexão. A pergunta é: será que a situação que existia antes da pandemia poderia ser considerada como normal? Vamos refletir um pouco:

É normal viver num país onde 5.653 pessoas morrem de desnutrição por ano segundo dados do próprio Ministério da Saúde, uma média de 15 pessoas por dia? É normal que mais de 3 milhões de crianças fiquem fora da escola e tenham que trabalhar para ajudar a família e que ainda existam mais de 11 milhões de analfabetos? É normal que pelo menos 8 milhões de brasileiros nem sequer existam legalmente, pois não têm documento de identidade? (Esse dado ficou comprovado durante o cadastramento para receber o auxílio emergencial).

Talvez não seja normal um país com tantas riquezas abrigar mais de 50 milhões de pessoas vivendo na linha da pobreza e outros 13 milhões na extrema pobreza, com menos de 1,9 dólares por dia, conforme critério adotado pelo Banco Mundial. Também não é normal que 50% da população brasileira não tenha acesso a esgoto e 35 milhões vivam sem água tratada. Um país com altos índices de violência não é normal e constatar que 75% das vítimas de homicídios são negros, torna a realidade ainda menos normal. Espancamento de mulheres, perseguição às minorias, desmatamento de florestas, invasão de terras indígenas, nada disso é normal.

Como falar em novo normal diante de tanta anormalidade? A verdade é que o mundo está doente e não é só de Coronavírus. Então que este seja um momento de mudanças; que essa pandemia provoque uma revolução de pensamento e de valores; que se compreenda aquilo que ficou escancarado nessa tragédia planetária; que se entenda que a saúde tem que ser universal, pois a vida é um direito de todos, independentemente de sexo, credo, raça ou classe social. Enfim, que aprendamos que não haverá novo normal sem que acabemos com o velho.

E DEPOIS DO CORONAVÍRUS?

Existem acontecimentos que marcam de tal forma a história da humanidade que, no futuro, passam a ser referenciados como antes e depois deles. Foi assim com as guerras mundiais tanto na primeira como na segunda, em que morreram milhões de pessoas. As catástrofes têm o potencial de devastar vidas, mas produzem efeitos positivos, que transformam a sociedade. Não podemos jamais cultuar a violência, mas também não podemos negar que o Japão não seria o mesmo se não tivesse ocorrido a tragédia de Hiroshima. Tudo isso nos faz crer que alguma mudança deverá ocorrer na humanidade depois que passarmos pela pandemia do coronavírus.

A primeira lição tem a ver com humildade. Somos seres inteligentes capazes de enviar naves ao espaço, mas ao mesmo tempo somos frágeis; um simples vírus pode matar pessoas e abalar a economia do planeta. Precisamos ser humildes, pois desafiar a natureza é flertar com a morte; vejam quantos jovens que nunca tiveram problemas de saúde estão morrendo. Outra lição da pandemia é o respeito à natureza principalmente com o ar que respiramos; aprendemos que a mesma porta pela qual entra a vida, pode entrar também a morte na forma de micropartículas que nos infectam. Precisamos aprender a respirar com gratidão e proteger mais o meio ambiente que é o nosso lar comum. Talvez, quando tudo passar, possamos ter uma opinião diferente diante de temas que envolvam questões climáticas e preservação do meio ambiente.

O isolamento social nos permite conhecer o outro mais profundamente e conhecendo, poder conviver e perdoar fazendo uma experiência religiosa concreta. A maior lição, entretanto é sobre espiritualidade. As religiões se esforçam para nos ensinar sobre caridade e compaixão, mas foi necessário um vírus para nos sensibilizar. É animador ver as pessoas compartilhando e se ajudando mutuamente; é emocionante ver a bondade estampada no semblante de quem dá e, ao mesmo tempo, a alegria no sorriso de quem recebe.

Por fim aprendemos de maneira implacável que a vida é um dom que depende da saúde, mas a saúde não pode ser um bem de poucos e sim um bem comum, pois habitamos o mesmo planeta e respiramos o mesmo ar. Concluindo, não existe vida segura e sadia sem que haja justiça e fraternidade.

CORONAVÍRUS

Ultimamente o que mais ouvimos falar é em pandemia, álcool em gel, lavagem das mãos e quarentena. O pânico está tomando conta do povo. O Brasil, um país com muita desigualdade social vai sofrer um pouco mais com isso. Uma das medidas para conter o vírus é o isolamento social, mas como isolar pessoas que moram em quartos onde dormem até 10 pessoas? Como isolar moradores de rua que dormem ao relento e já estão isolados de tudo? Nos tempos de crise ocorre um fenômeno curioso: O desespero pela sobrevivência faz com que aflore do ser humano os seus dois lados distintos, ou seja, o egoísmo e a compaixão. O egoísmo está presente nas pessoas que correm aos supermercados comprando tudo o que podem, para montar estoque em casa sem pensar no próximo.

Felizmente podemos ver, também, exemplos de compaixão presentes nas pessoas que se solidarizam com o sofrimento do outro e buscam, de alguma forma, amenizar a sua dor. Em alguns prédios artistas se apresentam de graça para entreter pessoas em quarentena. Em Curitiba uma loja disponibilizou álcool em gel grátis para os clientes. Em muitos condomínios residenciais organizam-se as chamadas correntes do bem, onde moradores estão deixando recado na portaria se oferecendo para fazer compras para pessoas idosas que não podem sair. Existe também o exemplo de moradores de comunidades pobres nas favelas que fazem campanha para arrecadar produtos de higiene e distribuem àqueles que não podem comprar. Aqui em Guarulhos o dono de uma lanchonete resolveu entregar lanches gratuitamente aos trabalhadores da saúde.

A verdade é que o pior ainda está por vir, mas a trajetória de grandes nações que triunfaram foi marcada por catástrofes naturais, perdas, guerras etc. Esses desafios constroem a história de um povo e cria uma identidade. Talvez para nós brasileiros o que estava faltando era justamente isso: Algo que nos unisse em torno de um ideal comum. Temos em nosso inconsciente valores que estão adormecidos e que, sem dúvida, vão despertar. Depois de vencermos essa guerra, nossa história nunca mais será a mesma. Vamos aprender que para cuidar de si mesmo, é preciso cuidar do outro e isso significa zelar pelo bem comum. Ou aprendemos isso agora ou vamos continuar isolados.

MINDFULNESS E CORONAVÍRUS

Faz um mês que estou em quarentena e como instrutor de Mindfulness desejo compartilhar com vocês a minha experiência praticando atenção plena.  Um dos benefícios de cultivar a atenção plena é a capacidade de aceitar o presente. Estar atento, estar mais consciente do presente sem julgamento, nos leva a uma aceitação melhor dos acontecimentos, nos ajuda a viver mais intensamente o momento sem ser dominado por eles e com a percepção de ser o protagonista das nossas escolhas. Não dominado pelos fatos, mas donos da situação.

A prática dos exercícios de atenção plena nesse período de crise mundial que nos obrigam a uma mudança radical do nosso modo de vida, pode nos ajudar em vários aspectos de nossa existência, como:

– Nos ajuda a manter a calma, a sermos realistas, não superficiais, nem neuróticos. Tudo passará.

– Nos ajuda a não criticar tudo e todos, não é fácil administrar uma situação tão complexa.

– Nos ajuda a ser mais responsáveis no relacionamento com outras pessoas, por isso é correto manter atenção plena quando alguém nos pede algo.

– Nos ajuda a redescobrir as nossas relações mais próximas, é um momento de reflexão e elaboração de situações pendentes que não foram resolvidas, para perdoar e fazer unidade. Graças às novas tecnologias podemos falar com amigos e parentes distantes e que há muito tempo não temos contato.

– Nos ajuda a ter mais tempo para nós mesmos, cuidar do nosso interior, fazer uma análise profunda da nossa vida e perceber aquilo que é essencial.

– Nos ajuda a fazer coisas que sempre queríamos ter feito e que por falta de tempo sempre postergamos.

– Nos ajuda a questionar sobre  o sentido da nossa vida e do nosso corre-corre.

Os momentos de crise com esses instrumentos se tornam ocasiões de autêntico crescimento. Momentos para nos tornarmos mais humanos!

Um último conselho, ou melhor dois: primeiro, pratiquem as técnicas de mindfulness mais vezes ao dia com constância, muitos de vocês têm tempo para isso; segundo, evite excesso de informações, de 30 a 45 min por dia é o suficiente para se colocar a par das situações. A prática de mindfulness em tempos de crise pode mudar nossa perspectiva sobre a situação.

DO EGOÍSMO À COMPAIXÃO – Quando o trigo é mais forte que o joio

O que faz alguém arriscar a vida para ajudar pessoas em situação de perigo? Nas enchentes que arrasaram a região sudeste no mês passado vimos inúmeros exemplos de solidariedade. Gente entrando na água para salvar pessoas ilhadas, outras fazendo marmitas para alimentar aqueles que perderam tudo. Por trás dessas ações está uma atitude que vem sendo cada vez mais objeto de estudo das ciências. Estamos falando de compaixão. Na maioria dos dicionários esse termo define o sentimento de empatia com o sofrimento alheio acompanhado do desejo genuíno de querer diminuí-lo, de alguma forma.

Por outro lado, o contrário de compaixão é o distanciamento, a indiferença, a frieza e a apatia. Tudo isso se refere ao egoísmo, palavra que define um amor próprio excessivo, que leva o indivíduo a olhar só para si mesmo desprezando as necessidades do outro. Egoísmo e compaixão são joio e trigo que crescem juntos e se antagonizam desde que o mundo existe. Infelizmente vivemos um momento histórico perigoso em que nações se fecham e se isolam e os exemplos de abertura se limitam aos interesses comerciais que objetivam o lucro. A ausência de compaixão produz a guerra que leva à fome e à miséria. Cenas catastróficas de pessoas amontoadas nas fronteiras buscando desesperadamente um lugar para viver dignamente e sendo expulsas como se fossem ratos.

No Brasil, as mortes violentas no campo e na cidade, as mortes por doenças que poderiam ser tratadas se tivéssemos um sistema de saúde de qualidade, produzem um quadro semelhante ao de um país em guerra. O egoísmo produz cegueira, rouba a nossa consciência e diminui a nossa capacidade de indignar-se diante das injustiças. Assistimos passivamente as ocupações de terras indígenas, desmatamento da Amazônia e o desrespeito às minorias. O egoísmo é o joio que habita o nosso inconsciente. Mas, temos também um grande potencial de transformação e vocação para o bem.

Quando os elos de pequenas ações em favor da vida se juntam, podemos formar uma corrente de amor e é nesse momento que vemos o trigo florescer. É um alento saber que a compaixão pode ser ensinada e cultivada desde a infância. Olhando os exemplos de Ir. Dulce aprendemos a amar sem distinção e sem julgamentos, tendo como única motivação para as nossas atitudes, o lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”.

 

Romildo R.Almeida
Psicólogo clínico