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RUMINAÇÃO MENTAL – A Depressão começa nos pensamentos distorcidos

O termo ruminar é normalmente utilizado para entender o processo de digestão de alguns animais como bois, camelos, girafas entre outros.

O processo de ruminação consiste em mastigar, engolir e depois retornar com o alimento à boca para ser remastigado e finalmente digerido.

Mas as ciências que se ocupam da saúde mental se apropriaram desse conceito para explicar um comportamento muito comum nas pessoas depressivas: Trata-se da Ruminação mental.

Estamos falando daquele pensamento negativo, que martela noite e dia. O problema da ruminação mental é que ela é a base da depressão.

Quando uma pessoa está em sofrimento emocional, é comum que tenha uma percepção distorcida da realidade e a depressão é realimentada por esses pensamentos formando um circulo vicioso.

A pessoa sente-se como se estivesse possuída de algum espírito maligno ou vítima de algum trabalho espiritual negativo.
Esses “espíritos” ruminam frases que destroem a nossa autoestima: “Sou um fraco”, “sou um perdedor”, “sou incompetente”.

Na verdade, são pensamentos automáticos gerados por crenças que desenvolvemos desde a infância. São ideias distorcidas baseadas em fases da nossa vida nas quais não tínhamos ainda uma mente capaz de discernir o falso do verdadeiro.

As experiências negativas tendem a solidificar esses pensamentos que mais tarde se tornam crenças centrais que compõem a nossa autoimagem.

Para não cair nas armadilhas mentais que nos aprisionam nessas crenças distorcidas, é preciso identificar os pensamentos automáticos.

Nem sempre pensamos o que queremos, pois os pensamentos têm vida própria, eles brotam na nossa mente sem a nossa permissão.

Quando conseguimos identificá-los, devemos adotar uma postura de acolhimento e aceitação, pois eles não são frutos da nossa reflexão consciente e inteligente.

Devemos tratá-los como nuvens no céu que se formam e se dissipam por si mesmas, independentemente das nossas ações.

Todavia, para muitas pessoas a autorreflexão não basta para identificar e lidar com a Ruminação. Nesse caso, é necessária a intervenção de um Psicólogo que através da abordagem Cognitivo Comportamental, poderá ajudar no entendimento e elaboração do problema.

As práticas de meditação de atenção plena mindfulness também são eficazes, uma vez que se contrapõem ao piloto automático, estado em que as Ruminações mentais acontecem.

Através dessas práticas podemos cultivar um estado de maior consciência do momento presente o que nos proporciona fazer melhores escolhas.

Não podemos ser escravos dos nossos pensamentos, afinal somos livres.

Pensamentos nada mais são, do que pensamentos.

POR QUE A GUERRA? A interessante pergunta que Einstein fez à Freud

Enquanto você lê esse artigo, milhares de pessoas estão morrendo em decorrência de guerras ou sofrendo as suas consequências. Desde 2525 a.C, quando aconteceu o primeiro conflito militar de que se tem notícia, a humanidade não parou mais de guerrear por diferentes motivos como: desentendimentos religiosos, interesses políticos, econômicos, rivalidades étnicas, etc. Além de causar mortes, as guerras provocam perdas econômicas, destruição do meio ambiente e traumas que ficam na mente dos sobreviventes.

Depois da guerra Franco-Prussiana, em 1871 que terminou com mais de 150 mil mortos, instaurou-se na Europa um movimento chamado de Belle Époque. De fato, era o sonho de uma bela época em que a humanidade viveria em paz, a partir dos avanços tecnológicos proporcionados pela Revolução Industrial. Os grandes pensadores ficaram tão otimistas que imaginavam que naquele mundo civilizado não haveria mais lugar para as guerras. No entanto, em 1914 eclodiu a primeira guerra mundial que deixou mais de 40 milhões de mortos e 30 anos mais tarde veio a segunda que matou mais de 55 milhões.

Em 1932 Albert Einstein escreveu uma carta à Sigmund Freud, criador da Psicanálise, com a seguinte pergunta: Por que a guerra? Existe alguma forma de livrar a humanidade dessa ameaça? A resposta de Freud foi desanimadora; segundo ele, existem dois instintos básicos na nossa psique: o instinto de vida ligado à preservação da mesma, chamado de Eros e o da Morte ligado a destruição, chamado de Thanatos. Esses dois princípios fundamentais se combinam e se completam de modo que um depende do outro. Por esse motivo, segundo Freud, a violência sempre acompanhará o homem no curso da sua história.

Considerando essa teoria, não devemos esperar que a paz aconteça, pois a humanidade carrega na sua constituição a semente da violência como estratégia de poder e dominação.  Violência contra seu semelhante, violência contra os animais, contra o meio ambiente e, em última análise, contra si mesmo. No entanto, não podemos viver de teorias. Precisamos acreditar na paz e construí-la de maneira simples a partir da nossa realidade. É preciso começá-la de algum lugar e o melhor lugar é dentro de nós mesmos. Precisamos ter paz interior para depois construir a paz exterior. Que a paz seja buscada, mesmo em meio a guerra, afinal, como disse o próprio Albert Einstein “Não se pode manter a paz pela força, mas sim pela concórdia. ”

POSITIVIDADE TÓXICA – A negação do sofrimento pode ser prejudicial à Saúde mental.

Todos devemos encarar a vida com otimismo e ter uma postura positiva frente às adversidades. Não há dúvidas de que a motivação é uma alternativa melhor do que o pessimismo em qualquer situação. Mas existe uma ideia que tem se difundido muito nos últimos tempos, principalmente nas mídias sociais. Trata-se da Positividade Tóxica que é o excesso de otimismo que as pessoas impõem a si mesmas no processo de condução de suas vidas. Evitar compulsivamente o contato com emoções negativas, disfarçar o sofrimento, forçar falsos sorrisos, podem ser, a longo prazo, atitudes prejudiciais à saúde mental.

A negação, conforme sustentava Sigmund Freud, é um mecanismo de defesa do ego e está relacionada ao propósito de fuga da realidade. A princípio parece bom, mas a longo prazo é prejudicial à saúde mental causando ansiedade, pânico e depressão. Por outro lado, a aceitação natural dos acontecimentos penosos, vivenciando todas as suas etapas, contribui para a sua superação, além de trazer amadurecimento e equilíbrio à personalidade. Não devemos confundir Positividade Tóxica com o otimismo que algumas pessoas têm. Enfrentar as adversidades com esperança, sem ignorar a realidade é bem diferente da postura do indivíduo com Positividade Tóxica.

A falta de empatia é, também, uma característica marcante da Positividade tóxica; o indivíduo preocupado consigo mesmo, não consegue colocar-se na perspectiva do outro, tornando-se, assim, egoísta. Quando alguém compartilha um sofrimento com um positivista tóxico, é comum ouvir, como resposta, frases evasivas tipo: isso não é nada, você é forte, etc. A tendência de querer positivar também é outra característica marcante do positivista tóxico. Por exemplo, quando alguém reclama do emprego, ouvir de volta algo como pelo menos você tem emprego. Isso promove desconexão além de não validar o sentimento do outro.

A ideia de que o agradável, o prazeroso, o motivador, devem estar acima das outras emoções consideradas negativas, gera egoísmo tanto no aspecto individual como no social. O distanciamento empático não contribui para um ideal de sociedade humana e fraterna, sobretudo nesses tempos difíceis pelo qual o mundo está passando. Desligar o rádio e a TV, fechar os olhos para as tragédias, não melhora o indivíduo e tampouco o mundo em que ele vive. Compartilhar a humanidade é aceitar que a dor do outro é, também, a minha dor. Nesse contexto, somos todos palestinos, judeus, russos e ucranianos, pois somos todos humanos. É melhor abrir os olhos para ver e o coração para sentir, pois o pior sofrimento é aquele em que fingimos estar felizes. 

PROCURA-SE UMA CRIANÇA – Uma breve discussão sobre a erotização da infância.

Outubro é o mês em que as atenções se voltam para as crianças. Essa época tornou-se importante, também, para o comércio, pois marca o início das vendas de Natal. Em meio as dúvidas naturais sobre o que comprar, surge uma questão mais importante: Do que elas estão precisando efetivamente? Uma breve olhada nos perfis, disponíveis nas mídias sociais, nota-se um fenômeno preocupante: As crianças estão deixando de ser crianças; estão se apresentando como se fossem adultos, buscando notoriedade e seguidores. Para atingir esse objetivo, usam recursos que as expõe perigosamente frente a um público ávido por conteúdos eróticos.

Muitas pessoas podem argumentar que, as crianças estão apenas se divertindo, que não há nada de errado, e que a maldade está nos olhos de quem vê. De fato, não teria problema algum se o vídeo fosse apenas para registro particular, mantido em casa. Mas a partir do momento em que eles se tornam públicos e com o aval dos próprios pais, qualquer pessoa pode copiá-los e utilizá-los como quiserem. É o que tem acontecido ultimamente, quando grupos criminosos alimentam sites de pornografia inserindo imagens de crianças que foram colhidas dos perfis exibidos na mídia social. Essa é a nova face da Pedofilia.

A criança ou até mesmo o adolescente, não possui maturidade suficiente para avaliar as consequências dos seus atos. Tudo o que querem é alcançar reconhecimento e obter poder através do aumento de seguidores e número de curtidas. O problema é que na ambição de ganhar popularidade, acabam reproduzindo o mesmo padrão hipersexualizado encontrado nas páginas dos adultos. Essa hipersexualização, infelizmente, está se tornando cada vez mais precoce e as consequências não são positivas. Podem causar estresse, ansiedade além de afetar o rendimento escolar. Contudo, o problema mais grave é a vulnerabilidade dessas crianças diante desse mundo virtual, tornando-as presas fáceis de pessoas mal-intencionadas.

Nesse mês de outubro que é o mês em que a sociedade coloca a criança como centro, é importante refletir sobre a nossa responsabilidade seja como genitores ou educadores. Temos um desafio que é resgatar a criança que foi atraída e presa nessa realidade virtual. É preciso devolver a elas o mundo concreto representado por brinquedos educativos que elas possam tocar e sentir. Existe uma variedade de jogos, filmes, livros que trabalham autoestima, meio ambiente, respeito ao próximo que podem ser opções na hora de presentear. Precisamos enxergar nos perfis de crianças e adolescentes expostos nas mídias sociais, as vozes abafadas e inocentes que, de maneira sutil, clamam pelo direito de ser apenas crianças.  

    Romildo R. Almeida – Psicólogo Clínico

MINDFULNES NA FAMÍLIA E COM A FAMÍLIA.

São muitas as propostas de atividades baseadas em Mindfulness dirigidas aos vários membros de uma unidade familiar: Programas de Mindfulness para pais, Programas de Mindfulness para avós, Programas de Mindfulness para crianças ou adolescentes. Deve-se notar, no entanto, que há poucas ofertas de treinamento em mindfulness para a família como um todo.

Vamos ver em detalhes como as práticas de atenção plena podem beneficiar qualquer núcleo familiar.

Cultivar uma atitude de Mindfulness, estar presente no presente sem julgamentos, traz muitos benefícios a nível individual; isso é confirmado por muitos estudos nas áreas de biologia, medicina, neurociência, psiquiatria e psicologia. As práticas de mindfulness melhoram o estado de atenção, o conhecimento e a gestão das nossas emoções e consequentes ações e melhoram a visão global: em suma, tornam-nos mais conscientes do nosso ser no sentido individual e também do coletivo. Se cada pessoa de um núcleo familiar for mais consciente do seu ser e do seu estar em relação, claro que, por consequência, toda relação-conexão familiar será beneficiada. O bem-estar e a harmonia familiar são em grande parte determinados pela qualidade das relações entre os atores envolvidos. Pense em um carro que corre com os quatro pneus calibrados com a mesma pressão e pense, como seria, a corrida do mesmo carro com os quatro pneus calibrados com uma pressão diferente. Pior ainda se uma roda estiver furada, neste caso, o bom senso pede para parar e reparar a roda danificada. Cultivar uma atitude Mindfulness envolve uma maior consciência de sermos família; um conjunto de personalidades distintas com singularidades próprias que partilham valores, espaços e tempos. Uma família que cultiva uma atitude de Mindfulness notará isso sobretudo a nível comunicativo; a comunicação será mais empática, sincera e assertiva.

Algumas propostas práticas para fazer crescer e cultivar as competências de Mindfulness em família e na familia. Por exemplo, a prática da respiração consciente: cada membro da família aprende uma prática respiratória relacionada à sua idade e depois, durante a semana, pratica uma técnica de respiração consciente todos juntos em família. Uma prática informal, que ajuda muito a cultivar uma atitude de Mindfulness na família, é planejar o número de refeições que farão juntos durante a semana. Quando todos comem juntos, é importante desligar a televisão, o rádio e os celulares para desfrutarem de todas as nuances de estarem juntos a comer à mesma mesa.

As técnicas e ferramentas são inúmeras; é importante entender que ser família é um grande presente que a vida nos dá e seria realmente triste não saber disso.

Lucio Francesco Saggioro, traduzido do italiano por: Romildo R.Almeida

NARCISISMO PARENTAL – A tênue fronteira entre cuidar e prender

O drama vivido pela atriz global Larissa Manoela, amplamente explorado na mídia no último mês, é o ponto de partida para discutir um problema muito comum que ocorre nas famílias. Trata-se da relação de possessão que alguns pais querem exercer sobre os filhos. É natural que alguns pais tenham dificuldade em transferir responsabilidades e, até certo ponto, isso não é um problema. Na maioria das vezes, esse sentimento, logo dá lugar ao orgulho de presenciar o sucesso dos filhos. No entanto, existem casos em que essa relação é carregada de estresse, pois os genitores querem dirigir a vida dos filhos em todos os aspectos, sob a justificativa de que eles são jovens imaturos.

Alguns casos podem evoluir para o Narcisismo Parental, um transtorno psíquico que atua especificamente na relação entre pais e filhos. Narcisismo origina-se do mito grego onde o belo jovem Narciso se apaixonou pela própria imagem refletida nas águas do rio e, por esse motivo, viveu infeliz e sozinho, impossibilitado de se relacionar com outras pessoas. No Narcisismo Parental, o pai, a mãe ou ambos se seduzem pelo papel que representam e têm dificuldade de reconhecer a autonomia dos filhos, pois isto significaria abrir mão da própria superioridade pela qual, estão seduzidos.

 Na prática, não querem perder o poder que imaginam ter e, por isso, transformam a convivência numa relação tóxica e carregada de estresse envolvendo sentimentos contraditórios de amor, inveja, ciúme e até ódio. Pais narcisistas em geral, são autoritários, egoístas e manipuladores, pois, ao longo do relacionamento com os filhos, desenvolvem essas características como estratégias para manter o poder sobre eles. Quando são contestados ou desafiados, tornam-se agressivos fazendo com que a relação se torne inviável. As consequências não são boas para nenhuma das partes, pois os pais acabam sozinhos repetindo o mito de Narciso. Quanto aos filhos, os danos são ainda maiores, pois podem desenvolver: baixa autoestima, dependência afetiva, insegurança, depressão, entre outros.

Nunca a carta de São Paulo aos efésios (Ef 4:24) tornou-se tão apropriada ao contexto que estamos vivendo sobretudo nas relações sociais, incluindo as famílias.  Revestir-se da nova humanidade é desapegar-se dos valores materiais, do poder que queremos exercer sobre as pessoas e aprender a viver na humildade. A sedução nos cega tal como no mito de Narciso e nos faz viver aprisionados pelo egoísmo.  A empatia é a porta que se abre para o amor, permitindo viver a bondade de coração, único caminho que pode nos libertar e conduzir à felicidade sustentável e à Salvação.

    Romildo R. Almeida Psicólogo Clínico

A CAPACIDADE NEGATIVA

Tenho um amigo que é arqueólogo há anos e trabalha nas escavações da antiga cidade de Pompeia, na Itália. Ele me disse um dia, que o maior perigo para as descobertas antigas não é apenas o tempo ou a lava misturada com terra de pedra que destruiu a cidade há milhares de anos. O maior perigo para escavações ou qualquer coisa antiga são as minúsculas sementes de grama. Eu, que vivi muitos anos em lugares antigos, confirmo isso. As sementes transportadas pelo vento, escorregam para as minúsculas fendas existentes nas pedras, que formam paredes ou telhados e, quando encontram um pouco de terra e água, sem pressa, começam a germinar. Ao brotar, elas abrem espaço e aumentam a rachadura original para que mais água e quaisquer outras sementes possam se infiltrar nessa mesma nova rachadura. A força da vida não tem medo das condições desfavoráveis ​​de uma antiga muralha, abre caminho e cria uma nova vida.

Em 1817, o poeta romântico John Keats usou a expressão “capacidade negativa” para definir o que deveria ser a principal característica do Homem de Realizações. Ele a chamou de “negativa” para contrastá-la com a necessidade “positiva” que muitas vezes temos de intervir nos problemas que encontramos, aplicando imediatamente uma atitude baseada na solução rápida. Segundo Keats, esse pegar o touro pelos chifres, esse partir e encarar a situação que se apresenta, pensar imediatamente em uma forma de submeter a realidade à nossa vontade é, antes de tudo, uma forma de não pensar e fugir.

De fato, ele definiu habilidade negativa, como aquela habilidade que um homem possui se souber perseverar nas incertezas através de mistérios e dúvidas, sem se deixar levar por uma busca vagarosa de fatos e razões. A aplicação imediata de uma solução é, na maioria dos casos, o exato oposto da capacidade negativa: é, antes, uma resposta automática, através de uma forma que restabelece rapidamente o status quo, resolvendo a dissonância que um problema nos apresenta.

A capacidade negativa é parar na incerteza, ouvi-la e entender o que ela está nos ensinando. Às vezes é melhor passar um pouco mais de tempo observando, ouvindo e se acalmando, para depois encontrar a solução certa, do que agir rapidamente com base em modelos mentais pré-estabelecidos, que têm apenas um efeito analgésico. A capacidade negativa é agir com o coração, é não ser escravo das situações da vida, vai além da reação impulsiva.

Está amplamente demonstrado que as práticas de atenção plena, se realizadas regularmente, aumentam a capacidade do indivíduo de aceitar os fatos da vida como eles são. Aceitar a realidade significa ir além do dualismo “gosto-não gosto”, isso leva à observação sem julgamento dos próprios fatos.

A aceitação da realidade é a base e o alimento da capacidade negativa.

A paciência da semente da grama permite que ela cresça e abra espaço em lugares impensáveis. Ela tem fé na força vital dentro de si.

Capacidade negativa é confiar na força vital que existe em cada um de nós.

PAI MISÓGINO OU PAI FILÓGINO – O que você quer ser quando crescer?

Estamos em agosto, mês em que se comemora o dia dos pais, data propícia para refletir sobre a importância da paternidade na construção da família. Gostaria de fazer isso à luz do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado recentemente e, de acordo com os dados, houve uma média de 205 estupros por dia no Brasil em 2022. Os números podem ser ainda maiores pois não incluem os casos em que a vítima não prestou queixa. Se compararmos com 2021, houve um aumento de 8,2%, o que coloca o Brasil no mapa dos países mais perigosos para mulheres.

O que isto tem a ver com paternidade? Bem, os meninos de hoje, serão os homens de amanhã, mas a questão é: que tipo de homens serão? A formação da personalidade de qualquer pessoa, depende, em grande parte, do modelo com o qual ela conviveu na infância desde o nascimento. A educação é um processo complexo que envolve interação com os pais em diversas situações, numa constante troca, que se dá, tanto no aspecto consciente, quanto no inconsciente. Por esse motivo, podemos supor que homens que praticam abuso e violência, não incorporaram um modelo positivo de masculinidade na infância e a causa disso pode estar na figura paterna.

A Misoginia que significa ódio ou aversão às mulheres, começa no machismo estrutural, impregnado de falsas ideias sobre masculinidade tais como: homem não chora, não sente dor, é imbrochável, etc. Em contrapartida, que mulher é frágil, carente e insegura. No aspecto sexual, o mito de que homem não pode fraquejar perante a mulher, e o preconceito de que a mulher provoca o homem dependendo da forma como se veste. Como vemos, é preciso mudar essa estrutura que está no inconsciente de cada homem, sem exceção. Os novos pais têm a missão de substituir o modelo machista, berço da Misoginia para um modelo que cultiva apreço, afeto e respeito pelo sexo feminino, chamado de Filoginia.

O pai deve estar no centro dessa mudança, interagindo em todas as situações e oferecendo-se como modelo positivo a ser seguido. É observando o respeito que os adultos têm pelas pessoas, que a criança absorve e constrói o seu caráter. Num tempo de guerra, de conflitos e de polarização, precisamos semear a paz e reconstruir a sociedade a partir de nós mesmos. Como disse o Papa Francisco: “É necessário esculpir a própria vocação em prol da humanidade e do bem comum. ” Seja um pai ativo na educação ensinando os seus filhos. Filoginia sim, Misoginia nunca.