INCLUSÃO COMIGO MESMO – Sem lama não há lótus!

Cada período da história tem sua “palavra-chave”, que não é apenas palavra, mas a expressão de uma mudança cultural, de uma nova visão social do ser humano. Pense na palavra “liberdade” nos anos 70, “capitalismo” nos anos 80, “globalização” nos anos 90, até a “eco sustentabilidade” desta última década. Mas, na era atual, existe outra palavra que é muito usada, principalmente na esfera social: estamos falando da inclusão. Inclusão (do verbo incluir) indica pertencer a algo, ser bem-vindo, envolvido e protegido. Especificamente, inclusão social representa a condição em que todas as pessoas vivam em estado de igualdade de oportunidades, independentemente da presença de diferenças de gênero, religião, ideias políticas, raça, deficiência físico-mental ou condição social – uma comunidade justa.

O oposto, é claro, são todas aquelas manifestações e ações que favorecem e alimentam qualquer forma de discriminação apenas porque uma pessoa é diferente de certos esquemas ou categorias culturais e sociais. A própria pandemia do Coronavírus está demonstrando como “o animal social”, chamado “homem”, ainda tem muito a aprender para alcançar uma sociedade inclusiva. A administração de vacinas, por exemplo, não é inclusiva, e os mais pobres são, como sempre, discriminados.

Mas a minha reflexão vai para outro lado. Cada um de nós não pode dar o que não tem. Ser inclusivo em nível social, com as pessoas à minha volta, é uma atitude que deve nascer e crescer dentro de mim – só assim posso, consequentemente, partilhá-la. Tudo começa e termina dentro de mim, no meu mundo interior. Então, para ser socialmente inclusivo, tenho que ser inclusivo comigo mesmo. Mas, o que significa ser inclusivo comigo? É, principalmente, não ter uma atitude discriminatória em relação a mim; e não classificar meu ser nas categorias: pontos fortes e defeitos, belo e feio, gosto e não gosto; mas me acolher como um conjunto de diferentes aspectos que me tornam um indivíduo único.

Ser inclusivo comigo mesmo é observar tudo o que sinto e experimento dentro de mim como um caminho de crescimento vital. A vida tem uma força intrínseca para gerar vida, para continuar a evoluir; o que chamamos de “morte” é apenas um passo evolutivo, não é o fim de uma existência. Tudo o que percebemos, especialmente em um nível interno, é vida e para a vida – até o que classificamos nas categorias “sofrimento” e “negativo”. Ser inclusivo comigo significa acolher e aceitar o que sou na totalidade e especificidade, com amor e sem julgamento. Ser inclusivo comigo leva-me a estar interiormente em harmonia, em equilíbrio, porque cada aspecto estará no seu lugar, fazendo-me sentir acolhido pelo que sou.

Ferramentas para uma atitude inclusiva são todas aquelas práticas que curam e alimentam a dimensão espiritual e ajudam a observar, estar atento, a viver o presente, acolher, ter gratidão e compaixão. Estar incluído comigo me ajuda a superar uma visão binária de mundo limitadora; isso me ajudará a perceber que sem lama não há flor de lótus.

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Lucio Francesco Saggioro

Monge missionário itinerante de espiritualidade Franciscana, italiano de nascimento e residente na Espanha em Hondarribia. Concluiu dotorado em Teología e Comunicação na universidade Lateranense de Roma. Muito sensível a temas sobre, educação, espiritualidade, sobretudo pelo mundo interior do ser humano. É também pós graduado em Mindfulness e cuidado integral da pessoa pela Universidade de Zaragoza, Espanha.​​​​​​​