ESCUTANDO A VIDA

Este artigo trata sobre a minha própria experiência sobre Mindfulness, a meditação e os exercícios que numa certa época da minha vida me ajudaram a meditar.

Hoje em dia a linguagem está em contínua evolução e mudança. Cada palavra pode ter vários significados em relação à cultura e às situações existenciais de cada pessoa. Por isso, neste artigo, tentarei explicar também em nível de linguagem o que eu entendo pessoalmente quando falo de “escutar a vida”.

Comecemos com a palavra Mindfulness. Para mim esse conceito não é uma técnica para o bem estar geral ou uma prática oriental para uns poucos escolhidos, Mindfulness no meu entender é uma atitude, um estilo de vida muito importante, já que nos ajuda a apreciar e usufruir a nossa existência. Como diz Nhat Hanh, a consciência plena, Mindfulness é “a capacidade de estar consciente e desperto no presente”.

É a prática contínua de sentir a vida profundamente em cada momento. Essa atitude não requer que se vá a nenhum lugar diferente. Podemos praticar a consciência plena ali mesmo onde estivermos, a cada momento. Podemos continuar fazendo as mesmas coisas que fazemos sempre: andar, sentar-se, trabalhar, comer, falar, com a diferença de que as faremos sendo conscientes do que estamos fazendo. ¹

Uma técnica ou instrumento que pode nos ajudar a praticar a consciência plena é a meditação.

Qualquer pessoa pode meditar e usufruir de seus resultados. Em minha opinião é uma capacidade que todos possuímos em nosso interior porem, em muitas ocasiões está à espera de ser descoberta. Isto acontece porque ninguém nunca nos mostrou ou ensinou.

Quando falamos de meditação imediatamente nossa mente associa ao silêncio. Relacionar meditação e silêncio não está errado, porém não é a mesma palavra.

Faz alguns anos eu consegui entender o que verdadeiramente significa o silêncio.
Em 2012 estive durante várias semanas em Ladakh, no Tibete da Índia.

Tive a oportunidade de consultar com diversos monges o que para eles significava o silêncio. Concretamente um, me afirmou que para ele o silencio era “escutar”, escutar nosso mundo interior para entender toda nossa vida e o que com ela está relacionado.

Em minha opinião, o ser humano é um ser completo, já que, conta com três dimensões que o abrangem por inteiro. Uma dimensão corpórea, uma dimensão racional e uma dimensão que eu chamo de espiritual e que se refere a tudo o que faz parte do nosso mundo interior mais profundo e que se manifesta através da nossa capacidade de transcender.

Cada dimensão produz necessidades que tem que ser escutadas para poder viver de forma equilibrada.

Cuidamos da dimensão corpórea com uma alimentação saudável, a prática de esportes, e a atenção a tudo o que diz respeito à parte física.

Cuidamos da dimensão racional com o sono, a leitura e relacionamentos saudáveis.

Cuidamos da dimensão espiritual parando e entrando em nosso mundo interior.

A meditação é um modo de colocar tudo isso em prática.

Através do silêncio, é possível ouvir todas as emoções e sensações que a nossa dimensão corpórea e relacional envia à nossa dimensão mais íntima.

Do mesmo modo, para mim, o silêncio é o modo que o ser humano tem de dialogar consigo mesmo.

Não existe verdadeiro diálogo se não houver capacidade de escutar².

Escutar não é o simples ouvir.

Atualmente estamos em uma época onde há muita dificuldade para a escuta. Estamos num momento onde as sensações rápidas e as imagens ganham. Eu mesmo sinto nos meus relacionamentos normais como há uma grande dificuldade na vida diária de escutar e de se escutar. Existe “barulho” externo demais e como conseqüência, “barulho” interno para nós.

Por tudo isto, uma das dificuldades que as pessoas podem ter hoje em dia em relação ao seu mundo interior, é fruto desta dificuldade em escutar. Colocando um exemplo para melhor entendimento desta questão, seria como querer colher os frutos de uma horta sem antes preparar e trabalhar bem a terra.

Quantas pessoas não se sentem bem consigo mesmas porque não se conhecem e não falam com o seu mundo interior! Não podem falar porque não sabem escutar.

É importante ensinar as pessoas a escutar a vida e a escutar a si mesmas.

Aprendendo a escutar tudo o que nossas dimensões pessoais nos dizem, podemos entender e perceber o que é de fato nossa vida e assim, viver a realidade como ela é.

Mindfulness, concluo, é saber escutar a vida, minha vida e a vida que me cerca, para poder estar desperto no presente.

Lucio Saggioro

Tradutora Carmen Lastiri Huarriz
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¹Cfr.www.tnhspain.org. Sobre a mensagem de Nhat Hanh.
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² Na Bíblia, a palavra “escuta” aparece 105 vezes

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Romildo Ribeiro de Almeida

Psicólogo

Romildo Ribeiro de Almeida é psicólogo clínico formado pela Universidade de Guarulhos, pós-graduado em Psicologia Analítica pela Universidade São Francisco, especializado em Hipnose Ericksoniana pelo Instituto Milton Erickson dos EUA. É instrutor de Mindfulness formado pela Unifesp e possui treinamento com professores do Oxford Mindfulness Centre do Reino Unido em Terapia Cognitivo Comportamental baseada em Mindfulness (MBCT). Escreve para jornais, revistas e sites sobre Psicologia e comportamento humano. Dá atendimento clínico de segunda a sábado em Guarulhos, SP, para jovens, adultos, crianças, adolescentes e casais nas abordagens: Cognitivo comportamental baseada em Mindfulness, e Hipnoterapia. Realiza cursos de Mindfulness de 8 semanas para Promoção de Saúde e Redução do Stress.